Falta de capacitação e profissionais afeta a primeira infância no ABC

A falta de capacitação e profissionais qualificados afeta a primeira infância nas cidades do ABC Paulista. Na cidade de São Caetano, em particular, a escassez de auxiliares da primeira infância na Escola Municipal de Educação Infantil EMI Antônia Capovilla Tortorello tem causado preocupação. Um auxiliar da unidade, que preferiu não se identificar, relata que a falta de profissionais resultou em um incidente no qual uma criança foi mordida duas vezes no rosto por falta de supervisão adequada. Esse não é um caso isolado e a falta de funcionários tem afetado a qualidade do ambiente de aprendizagem, tornando-o inseguro e precário.

Além da falta de profissionais, a falta de capacitação também é um problema na EMI Antônia Capovilla. Professores relatam a dificuldade de lidar com crianças desafiadoras e com deficiências ocultas, sem o devido treinamento para lidar com essas situações. Quando recorrem à Secretaria de Educação em busca de apoio, muitas vezes se deparam com a resposta de que é um “problema interno” e que devem resolver por conta própria.

Outro problema apontado na escola de São Caetano é a discriminação no processo de seleção dos profissionais. Apenas 20% dos profissionais da última chamada eram homens, o que reflete a falta de igualdade de gênero e a restrição de tarefas, como a troca de fraldas, baseada em estereótipos de gênero.

Em Ribeirão Pires, a falta de auxiliares da primeira infância também é um desafio. Professores relatam que muitas vezes os profissionais contratados não recebem capacitação adequada, o que prejudica o desenvolvimento das crianças. Além disso, crianças com deficiências não recebem atendimento especializado, o que limita seu progresso.

As prefeituras do ABC têm feito esforços para ampliar o número de auxiliares na primeira infância, porém, a demanda ainda é alta. Em São Bernardo, por exemplo, há 840 auxiliares atuando nas escolas, um aumento de 45,3% em relação a 2022. No entanto, ainda faltam profissionais para atender todas as turmas de forma adequada.

De acordo com a professora Marta Regina Paulo da Silva, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, é fundamental investir na formação continuada dos auxiliares da primeira infância, pois eles desempenham um papel importante no desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Ela destaca a importância de reconhecer que os auxiliares são educadores, responsáveis não apenas por cuidar, mas também por educar as crianças.

No entanto, Marta ressalta que muitas vezes há uma compreensão equivocada de que o cuidar e educar são duas dimensões separadas, quando na verdade são indissociáveis. Ela também aponta a divisão de gênero como um problema nas instituições, que muitas vezes restringem tarefas específicas aos profissionais homens ou mulheres, reproduzindo estereótipos de gênero e sobrecarregando um grupo em detrimento do outro.

Apesar dos esforços das prefeituras para aumentar o número de auxiliares na primeira infância, ainda há muito a ser feito para garantir que todas as crianças tenham acesso a um ambiente de aprendizagem seguro e de qualidade desde os primeiros anos de vida. É essencial investir na formação e capacitação dos profissionais, bem como garantir uma proporção adequada entre adultos e crianças nas salas de aula. Somente assim poderemos garantir o pleno desenvolvimento e aprendizagem das crianças na primeira infância.

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