Denúncias de abuso sexual infantil na internet aumentam 84% entre janeiro e setembro deste ano, revela ONG Safernet.

O número de denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet aumentou 84% nos primeiros nove meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019. Os dados foram divulgados pela organização não governamental Safernet, que atua na defesa dos direitos humanos online.

De acordo com a Safernet, foram recebidas 54.840 novas denúncias de conteúdos com imagens de crianças abusadas sexualmente, em comparação com as 29.809 denúncias registradas no ano passado. O presidente da Safernet, Thiago Tavares, destacou que essas denúncias se referem a “novos conteúdos ou novas páginas” que nunca haviam sido denunciadas antes.

Tavares ressaltou ainda que esse crescimento está relacionado a um novo fenômeno preocupante: a venda de packs ou pacotes, que são imagens autogeradas por adolescentes e vendidas em aplicativos de troca de mensagens, como o Discord e o Telegram. Essas imagens são produzidas principalmente por jovens em condição de vulnerabilidade socioeconômica, que manipulam suas genitálias e vendem ou trocam os vídeos por cupons de jogos e créditos de celular.

O presidente da Safernet alertou que esse tipo de conteúdo não apenas viola o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas também coloca as crianças em risco. Ele ressaltou que é difícil controlar a disseminação e a viralização dessas imagens, o que pode causar danos irreparáveis às vítimas.

Os dados divulgados pela Safernet estão em linha com as operações realizadas pela Polícia Federal, dedicadas ao combate aos crimes cibernéticos envolvendo crianças e adolescentes. Somente neste ano, foram realizadas 627 operações desse tipo, um aumento de quase 70% em comparação com o ano passado.

No entanto, Tavares enfatizou que o combate a esses crimes não se resume às operações policiais e às medidas socioeducativas. Ele argumentou que muitos adolescentes que produzem esse tipo de conteúdo são vítimas de exploração comercial de sua sexualidade, e é necessário abordar essa questão de forma mais ampla.

Durante o 8º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, realizado em São Paulo, também foi destacado o fato de que as crianças estão acessando a internet cada vez mais cedo no Brasil. Segundo um estudo conduzido pelo Cetic.br, 24% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos acessam a internet pela primeira vez antes dos 6 anos de idade.

Esse acesso precoce e sem supervisão preocupa especialistas, que defendem a necessidade de ensinar educação sexual nas escolas. Além disso, os pais também são aconselhados a acompanhar de perto as atividades online de seus filhos e utilizar recursos tecnológicos para monitorar a navegação e controlar o acesso a determinados sites.

A prevenção da disseminação de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet é um desafio complexo, que requer ações educativas, orientação para os pais e uma atuação eficiente das autoridades. É fundamental que a sociedade como um todo se mobilize para proteger as crianças e combater esses crimes hediondos.

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