Denúncias de abuso sexual infantil aumentam 84% no Brasil em 2023, aponta levantamento da Safernet.

A Safernet divulgou na tarde desta quarta-feira (25) um levantamento que mostra um aumento de 84% nas denúncias de abuso e exploração sexual infantil, recebidas entre janeiro e setembro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com a ONG, foram registradas 54.840 novas denúncias de conteúdos com imagens de crianças abusadas sexualmente neste ano, enquanto em 2022 foram recebidas 29.809 denúncias.

Esses números vão de encontro aos resultados apresentados pela pesquisa TIC Kids Brasil 2023, também divulgada nesta quarta-feira. O estudo apontou que o número de crianças que acessam a internet antes dos seis anos dobrou em relação a 2015. Isso indica um uso cada vez mais precoce da internet, o que pode trazer consequências negativas para o desenvolvimento cognitivo, físico e mental dessas crianças, de acordo com especialistas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que bebês com menos de dois anos não tenham acesso às telas e que crianças com até cinco anos sejam expostas a elas por no máximo uma hora por dia, com conteúdo controlado pelos pais. No entanto, os dados da Safernet indicam que as crianças estão sendo expostas a conteúdos inadequados cada vez mais cedo.

Os números divulgados pela Safernet também estão alinhados com os dados apresentados pela Polícia Federal, que realizou 627 operações envolvendo crimes cibernéticos com crianças e adolescentes como vítimas neste ano. Em comparação com o ano passado, houve um aumento de 69,9% no número de operações e 46,23% no número de prisões.

Thiago Tavares, presidente da Safernet, chama a atenção para um fenômeno preocupante, que é a venda de pacotes de imagens autogeradas por adolescentes em que eles aparecem nus ou realizando atos sexuais. Esses pacotes são vendidos em grupos ou até mesmo em redes sociais abertas. Tavares explica que adultos abordam as crianças e adolescentes, oferecendo benefícios em jogos em troca de imagens.

Segundo Tavares, os packs têm uma dificuldade de rastreamento, pois a transação financeira geralmente não é feita por meios tradicionais, mas sim por criptomoeda ou cupons que podem ser convertidos em produtos de jogos. Além disso, existe um mercado secundário em que o conteúdo dos packs continua circulando sem o conhecimento da vítima.

O presidente da Safernet ressalta a importância do investimento em educação sexual para os jovens, pois a falta de acesso a essa educação faz com que a maioria deles busque informações em sites de pornografia adulta. Ele destaca que é necessário falar sobre esse assunto nas escolas, para que as crianças e adolescentes sejam educados a reconhecer situações de abuso.

Em entrevista, Tavares afirma que a compra, venda, divulgação e lucro de imagens desse tipo configuram crimes, mas quando quem produz as imagens é a própria vítima, a situação se torna um dilema judicial. Ele destaca que é preciso enfrentar essa questão e buscar soluções para proteger as vítimas e combater a exploração sexual infantil na internet.

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