A CPI do MST encerra sem votar relatório, ampliando visibilidade do movimento que completa 40 anos de atuação

CPI investiga ocupações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

No mês de maio, a Câmara dos Deputados instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ocupações promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A criação dessa CPI foi vista como uma resposta da oposição às investigações dos atos terroristas ocorridos em janeiro deste ano. Entretanto, a medida não resultou na votação de um relatório final.

Mesmo sem um desfecho, as investigações proporcionaram uma maior visibilidade ao grupo, que está prestes a completar 40 anos de atuação em 2024.

O MST surgiu em âmbito nacional a partir da realização do 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ocorrido em janeiro de 1984, na cidade de Cascavel, no Paraná. Desde então, o movimento se concentra em acampamentos e ocupações de terra, defendendo a reforma agrária de caráter popular e uma transformação social capaz de superar o sistema capitalista.

De acordo com os dirigentes do MST, a iniciativa busca o cumprimento da Constituição Federal no que diz respeito à desapropriação de terras que não estejam exercendo sua função social, conforme previsto na Lei 5.504, de 1964. Isso implica na necessidade de que as propriedades atuem como espaços de moradia e produção, e não apenas como meio de acumulação financeira.

Renata Menezes, integrante da coordenação nacional do coletivo de juventude do MST, destaca a importância da estruturação adequada para a vida digna dos assentados. Ela defende que a reforma agrária de caráter popular pela qual o movimento luta deve garantir direitos no campo, como educação, saúde, cultura, comunicação, entre outros aspectos essenciais para a inclusão das pessoas que fazem parte da base organizada do movimento.

Durante a CPI, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) constatou que, somente no primeiro semestre de 2023, 63 áreas foram ocupadas pelo MST, em comparação com 62 ocupações entre 2019 e 2022. Isso significa que as ações promovidas durante o primeiro ano da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superaram o total dos quatro anos da gestão anterior, comandada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo dados divulgados pelo MST, existem atualmente 100 mil famílias vivendo em acampamentos à espera de assentamento no Brasil. Já o governo federal estima esse número em 80 mil.

Durante sua história, o movimento se organizou em todos os estados do país e foi fundamental para que cerca de 400 mil famílias conquistassem seu lar.

Além de manifestações e ocupações, o MST possui uma ampla estrutura para a comercialização de produtos agroecológicos, como feiras da reforma agrária e armazéns do campo, que vendem produtos pela internet. O movimento é responsável pela produção de 70% do arroz orgânico do país, por meio de cooperativas, agroindústrias e associações.

A diversidade da produção inclui leite, frutas, sucos, café, castanhas, condimentos, mel, mandioca, soja, feijão, milho, cacau, sementes, mudas, ovos, tomate, carnes, cana-de-açúcar e açaí.

Durante a pandemia de COVID-19, o MST realizou a doação de mais de 7 mil toneladas de alimentos até setembro de 2022. Além de combater a fome nas periferias, o movimento também contribui para a formação de organizações solidárias.

O MST não apenas lida com as comunidades das periferias urbanas, mas também estimula o trabalho comunitário, a organização coletiva e a solidariedade através das doações de alimentos, promovendo uma maior compreensão das lutas do campo por parte da sociedade urbana.

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