Dois suspeitos são presos por disparos que mataram adolescente em treino de futebol em Fortaleza. Violência entre facções criminosas continua no Ceará.

Dois homens foram detidos nesta terça-feira (24) suspeitos de serem os responsáveis pelos disparos que resultaram na morte de um adolescente de 14 anos durante um treino de futebol na Areninha do Conjunto João Paulo 2º, na periferia de Fortaleza, na noite de segunda-feira (23).

As autoridades policiais informaram que os suspeitos se aproximaram da quadra onde as crianças estavam jogando e efetuaram os disparos de dentro de um veículo. Além do adolescente morto, um homem e outros dois adolescentes, de 12 e 13 anos, também foram baleados.

Os suspeitos presos foram identificados como Lucas Felix de Sousa, de 26 anos, e Edivanio da Silva Nascimento, de 22 anos. Segundo as autoridades, os dois são membros da facção criminosa Massa Carcerária, que atua no estado. Não há informações sobre a contratação de advogados por parte dos suspeitos nem sobre o que teriam dito no momento da prisão. A polícia ainda procura um terceiro suspeito que estaria envolvido no crime e está foragido.

O episódio se insere em uma sequência de assassinatos que têm sido atribuídos às disputas entre facções criminosas rivais no Ceará. No último sábado (21), três membros de uma mesma família foram mortos dentro de sua residência, em Jaguaribe, a 243 km da capital. Os dois suspeitos pelos assassinatos foram mortos no dia seguinte, durante um confronto com a polícia. De acordo com a polícia, há suspeitas de que o crime esteja relacionado às ações de facções envolvidas no tráfico de drogas.

Desde 2005, Fortaleza tem sido palco de confrontos entre facções pelo controle de bairros na cidade. Esses grupos locais têm conexões com organizações criminosas nacionais, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).

Especialistas em segurança pública afirmam que as disputas por território e a fragmentação dessas organizações têm sido as principais causas de ações violentas. Segundo Ricardo Moura, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, há uma nova disputa de hegemonia entre facções rivais na capital cearense, como o GDE (Guardiões do Estado), aliado ao PCC, o CV e a Massa Carcerária, também ligada ao CV.

Moura afirma que a tentativa de chacina ocorrida durante o treino de futebol foi motivada pelo assassinato de um homem e um recém-nascido no bairro Messejana, controlado pelo CV. Segundo ele, houve uma ameaça de retaliação e, como consequência, ocorreu o ataque.

A violência decorrente desses conflitos é direcionada especificamente para os territórios controlados pelos grupos rivais e é realizada de forma aleatória, com o objetivo de espalhar o terror nas comunidades. Em 2016 e 2017, Fortaleza enfrentou uma onda de violência quando o GDE rompeu com o CV, mantendo apenas a relação com o PCC. No início de 2019, as facções coordenaram uma série de ataques, incluindo incêndios e tiros contra prédios públicos, que exigiram a intervenção da Força Nacional.

Luiz Fábio Paiva, sociólogo também ligado ao LEV, destaca que as facções estão se fragmentando, o que tem reacendido os conflitos. De acordo com ele, a Massa Carcerária surgiu como resultado da fragmentação do CV. A violência resultante desses conflitos está concentrada nos bairros e comunidades onde esses grupos atuam, causando desde a expulsão de moradores até chacinas.

Os pesquisadores concordam que a reorganização interna das facções tem ocorrido devido à prisão de seus líderes, o que, ao invés de enfraquecê-las, tem aberto espaço para dissidências e novas disputas. Eles ressaltam a importância de um trabalho além dos órgãos de segurança para lidar com a inserção de crianças, adolescentes e jovens nessas organizações.

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