Repórter São Paulo – SP – Brasil

Controle territorial armado é um dos mais graves problemas do Rio de Janeiro, com governo sendo parte do problema

O controle territorial armado é um dos maiores problemas enfrentados pelo Rio de Janeiro e o governo é parte integrante dessa questão. Apesar de não ser exclusivamente responsabilidade do governo atual, a ineficácia e inação têm contribuído para agravar a situação.

A inação se refere à falta de ações estratégicas voltadas para combater as bases econômicas e políticas dos grupos armados, especialmente as milícias. Essas organizações controlam e sobretaxam diversos serviços locais, como habitação, transporte, energia elétrica, água, internet e gás de cozinha. A participação de agentes públicos nesses grupos tem permitido o desenvolvimento dessas atividades extrativas, com pouca fiscalização e repressão policial. Infelizmente, nada tem sido feito para coibir os negócios das milícias, o que permite sua expansão.

Em relação à ineficácia, o governo insiste em políticas centradas no enfrentamento armado, que têm servido apenas para fins eleitorais e não contribuem para o desmantelamento das redes criminais. Essas ações letais baseadas em operações policiais têm resultado na morte de milicianos e traficantes, porém, não têm conseguido conter a expansão dos grupos armados. Muitas vezes, a morte de lideranças acaba provocando uma escalada de violência e oportunidades para facções ampliarem seus domínios.

O controle do crime deve envolver a prisão de indivíduos, mas seria mais estratégico mirar nas posições intermediárias que articulam as alianças políticas e parcerias econômicas dessas organizações. O encarceramento em massa da base empobrecida ou acreditar que cortar a cabeça de uma organização resolve o problema são medidas ineficientes. As prisões apenas fortalecem o crime e as cabeças cortadas se multiplicam a cada golpe sofrido.

A fraqueza do governo tem sido evidenciada pelos recentes episódios de ônibus queimados no Rio de Janeiro. A extinção da Secretaria de Estado de Segurança resultou na perda de coordenação das ações e no controle político do poder em armas, o que estimula a corrupção policial.

Além disso, as denúncias envolvendo o homem forte da segurança por associação com o jogo do bicho abriram um vácuo de poder no comando da segurança pública no Rio de Janeiro. A nomeação do secretário da Polícia Civil foi feita sob pressão e revelou as relações notórias de alguns deputados com milicianos.

O Rio de Janeiro precisa de políticas públicas fortes, incisivas e baseadas em dados e evidências. O apoio do governo federal e dos municípios é importante, mas não para reforçar ações que têm sido realizadas há décadas. É necessário regular os mercados parasitados pelos grupos armados e romper as conexões entre instituições públicas e criminosos.

Uma segunda CPI das milícias, envolvendo os três níveis de governo, seria bem-vinda, desde que conduzida por parlamentares comprometidos com o enfrentamento do crime. O judiciário também deve colaborar para investigar e condenar as conexões políticas e econômicas desses grupos. Essa é uma tarefa difícil, mas que precisa ser iniciada urgentemente diante da escala do problema.

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