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Apostas esportivas causam vício e são usadas para lavagem de dinheiro, apontam especialistas e autoridades em audiência no Senado

Audiência pública da Comissão de Esporte (CEsp) realizada nesta segunda-feira (23) debateu por mais de seis horas os efeitos nocivos das apostas esportivas conhecidas como “bets”. Os participantes ressaltaram que esse tipo de aposta pode causar vício nos jogadores, levando a problemas de saúde. Além disso, alertaram que as apostas são utilizadas por criminosos para lavagem de dinheiro e manipulação de resultados de jogos.

Os senadores Jorge Kajuru (PS-GO), Eduardo Girão (Novo-CE) e Paulo Paim (PT-RS) conduziram o debate, sendo que Kajuru é vice-presidente da CEsp, e o senador Romário (PL-RJ) é o relator do projeto de lei que visa regulamentar as apostas esportivas de quota fixa (PL 3.626/2023). Essa proposta estabelece regras para a autorização das apostas, a publicidade desses jogos e a destinação dos tributos arrecadados, entre outras medidas. Kajuru afirmou que será o relator do projeto quando ele for apreciado no Plenário do Senado.

Eduardo Girão defendeu a proibição total das apostas esportivas, enfatizando que o vício gerado por essas apostas é ainda mais prejudicial que o causado pelo cigarro. Ele também solicitou que o projeto seja avaliado pelas comissões de Direitos Humanos (CDH) e de Assuntos Sociais (CAS).

José Francisco Cimino Manssur, representante do Ministério da Fazenda, afirmou que as apostas esportivas trazem consequências negativas, como o uso para lavagem de dinheiro e manipulação de resultados. Ele destacou o crescimento exponencial desse setor nos últimos cinco anos, que alcançou um faturamento de mais de R$ 100 bilhões, sem pagar impostos devido à falta de regulamentação.

Alcino Reis Rocha, secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), concordou que as apostas esportivas afetam a saúde pública e também os direitos do consumidor. Ele pediu ao Senado que aprimore o texto do projeto para combater a manipulação de resultados.

Paulo Roberto Ribas, presidente da Confederação Brasileira de Games e Esports, ressaltou que é necessário regulamentar e fiscalizar as apostas esportivas, ao invés de simplesmente proibi-las. Ele reconheceu que problemas como sedentarismo e excesso de tempo de tela são questões globais que precisam ser combatidas.

O delegado da Polícia Federal Alessandro Maciel Lopes argumentou que a proibição total das apostas esportivas não resolverá os problemas existentes. Ele defendeu a “tolerância regulamentada”, permitindo que o Estado monitore e fiscalize as apostas e possíveis atividades criminosas. O delegado também sugeriu que as empresas estrangeiras de apostas sejam obrigadas a ter escritórios no Brasil e a armazenar de forma segura os dados dos apostadores, fornecendo essas informações quando solicitadas pela Justiça para o combate a crimes.

Ana Yaemi Hayashiuchi, psicóloga especialista em transtorno de impulso, ressaltou que o vício em apostas acarreta prejuízos à saúde física, financeira, social e mental das pessoas. Ela destacou que o vício em jogo é comportamental, semelhante ao vício químico, e que é difícil para a pessoa manter o controle uma vez que inicia a prática. A falta de uma legislação adequada, segundo ela, está permitindo o aumento do vício em apostas, inclusive entre crianças.

Damares Alves (Republicanos-DF), senadora, posicionou-se contra a legalização dos jogos de azar no Brasil.

Fábio Gomes de Matos e Souza, presidente da Associação de Psiquiatria do Ceará, informou que estudos mostram que o transtorno do jogo afeta entre 0,5% e 1% da população em países, o que equivale a um a dois milhões de pessoas no Brasil. No entanto, apenas 10% delas procuram tratamento, deixando a maioria sem assistência. O médico defendeu que parte dos impostos pagos pelas apostas seja destinada para áreas especializadas do Sistema Único de Saúde (SUS) e alertou que quanto mais nova a pessoa, maior a chance de desenvolver um vício.

Rodrigo Alves, presidente da Associação Brasileira de Apostas Esportivas, afirmou que a regulamentação das apostas é extremamente necessária, mas fez críticas ao texto do projeto de lei aprovado na Câmara. Ele sugeriu que o Brasil se espelhe em países que já regulamentaram as apostas esportivas.

A audiência pública também contou com a participação de outros especialistas e profissionais que atuam na área de tratamento e reabilitação de viciados em apostas. O debate foi requerido pelos senadores Girão, Cleitinho (Republicanos-MG), Carlos Portinho (PL-RJ), Kajuru e Zequinha Marinho (Podemos-PA).

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