Repórter São Paulo – SP – Brasil

O desafio da construção: a história do monumento ao IV Centenário de São Paulo e seu trágico fim

No ano de 1954, São Paulo viveu um frenesi de celebração com a comemoração do IV Centenário da cidade. Essa data histórica, que marcaria os 400 anos de existência da capital paulista, despertou uma grande expectativa na população. Para organizar todos os festejos e eventos comemorativos, uma comissão foi formada em 1951, tendo à frente o renomado Ciccillo Matarazzo.

Sobrinho do famoso Conde Matarazzo, Ciccillo era conhecido por sua habilidade em articular grandes projetos. E foi justamente essa competência que fez com que todas as atividades relacionadas ao IV Centenário fossem um verdadeiro sucesso. Obras de arte, decoração, livros, eventos, inaugurações, apoio de empresas, tudo estava sendo planejado meticulosamente para abrilhantar ainda mais a celebração.

No entanto, havia um desafio que preocupava Matarazzo: o monumento ao IV Centenário de São Paulo. Projetado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, o monumento, chamado de Aspiral, tinha um desenho complexo e arrojado, que encantou políticos e cidadãos. O símbolo oficial da comemoração logo se espalhou pelas ruas, estampando selos, moedas e diversos produtos.

Porém, o monumento enfrentava um grande problema: seu projeto desafiava a física e a engenharia da época. Com sua estrutura em concreto armado e um ângulo de sustentação de 45°, a escultura de 17 metros de altura era considerada impossível de ser construída. O tempo ia passando e nada resolvia o impasse.

Com o prazo para a inauguração se esgotando, Matarazzo decidiu fazer uma pequena mudança no projeto sem comunicar o arquiteto Niemeyer: alterou o ângulo de sustentação para 60°. Assim, finalmente foi possível construir o monumento a tempo para a celebração.

Tudo parecia resolvido, mas poucos dias antes da inauguração oficial, um grande problema surgiu. Os pedreiros responsáveis pela obra erraram na quantidade de concreto, colocando uma espessura duas vezes maior que o necessário. O monumento ficou pesado demais e desabou. Foi um verdadeiro desastre.

Para salvar a inauguração, o engenheiro Valter Neuman teve uma ideia genial: usar gesso e juta para reconstruir o monumento. Com esses materiais, a obra foi executada novamente em tempo recorde. A estrutura de metal foi colocada, a espiral encaixada e tudo foi revestido com gesso e pintado na cor correta. A inauguração foi um sucesso, e ninguém desconfiou do “jeitinho brasileiro” que foi necessário.

No entanto, meses depois, o monumento começou a sofrer os efeitos do clima, com chuva, umidade e vento deteriorando a escultura. O gesso começou a derreter e a juta soltou, deixando apenas a estrutura de ferro exposta. Sem manutenção adequada, o monumento enferrujou completamente e, eventualmente, foi descartado. O que deveria representar a força e grandiosidade de São Paulo acabou se tornando um fiasco.

É sempre interessante relembrar histórias como essa, que revelam a capacidade única do povo brasileiro de encontrar soluções criativas mesmo em situações complicadas. O monumento ao IV Centenário de São Paulo pode ter sido efêmero, mas a história por trás de sua construção e queda certamente permanecerá na memória da cidade.

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