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Guardiãs do Cacau: Mulheres ribeirinhas da Amazônia transformam frutos em chocolates finos e impulsionam economia local

No coração da Amazônia, na comunidade ribeirinha Acará-Açu, vive um grupo de oito mulheres que se autodenominam as Guardiãs do Cacau. Elas são as responsáveis por uma pequena fábrica de chocolates finos chamada Acaráçu, onde produzem chocolates escuros e brilhantes de alta qualidade. Essas mulheres estão mudando a forma como enxergam suas vidas e suas comunidades através do trabalho com o cacau.

Valdenilda Pereira, uma das Guardiãs do Cacau, conta que antes de se envolver com essa atividade, ela não conseguia se aceitar morando na comunidade e pensava em se mudar para a cidade. No entanto, depois de começar a trabalhar na fábrica de chocolates, sua perspectiva mudou completamente. Hoje, ela não tem nenhuma vontade de deixar sua casa e sua comunidade.

O envolvimento com o cacau começou quando o irmão de Valdenilda, Zeno Gemaque, procurou um famoso chocolatier amazônico chamado César De Mendes para vender os frutos de cacau produzidos na região. As árvores de cacau crescem naturalmente nas propriedades da comunidade ou são plantadas cuidadosamente em meio à floresta. Zeno explica que a rede de produtores inclui 38 parceiros locais e oferece treinamento e qualificação para garantir a produção de cacau de alta qualidade.

Após a colheita, as sementes de cacau são levadas para cochos de fermentação, onde permanecem por cerca de seis dias. É nesse período que acontece a “mágica” da transformação do cacau em um produto de alto valor agregado. De acordo com De Mendes, os micro-organismos presentes no terroir da região influenciam no sabor e na qualidade dos chocolates amazônicos, assim como acontece com o vinho.

Menos de dois anos após participarem de uma oficina com De Mendes, as Guardiãs do Cacau já produzem uma variedade de produtos, incluindo barrinhas de cacau puro, chocolates meio amargos, chocolate ao leite e outros produtos cobertos de chocolate. Todo o processo, desde a colheita até o produto final, leva aproximadamente 25 dias.

Além de contribuir para a economia local, o trabalho com o cacau está impulsionando outras iniciativas na comunidade. Jovens estão se reunindo para discutir cultura e conscientização, outros estão produzindo mudas de espécies nativas e nove famílias estão transformando seus quintais em agroflorestas. A presidente da associação de moradores da comunidade, Izabela da Cunha Campos, destaca a importância desse projeto para a qualidade de vida da comunidade e espera que ele se estenda para outras famílias e comunidades.

Essa iniciativa representa um exemplo de economia sustentável baseada na sociobiodiversidade da Amazônia. Segundo o coordenador do portfólio de economia de baixo carbono do Instituto Clima e Sociedade, Gustavo Pinheiro, esse tipo de economia emprega muitas pessoas e não é capturada pelas estatísticas oficiais. Um estudo recente indica que o Brasil pode parar o desmatamento na Amazônia e ter crescimento econômico através de uma transformação em larga escala, incluindo práticas agropecuárias sustentáveis, restauração de áreas degradadas, investimento em tecnologias de baixo carbono e bioeconomia.

O trabalho das Guardiãs do Cacau é um exemplo inspirador de como é possível transformar a vida das comunidades amazônicas através do aproveitamento sustentável dos recursos naturais e do fortalecimento da economia local.

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