Repórter São Paulo – SP – Brasil

Mulheres negras e sua luta ancestral contra o Racismo Ambiental e por representatividade no Brasil

O conceito de racismo ambiental tem sido cada vez mais discutido nos últimos tempos. Essa expressão é usada para descrever as injustiças ambientais que atingem de forma desproporcional comunidades marginalizadas, como negras e pobres, e também para evidenciar a ausência dessas comunidades nos espaços de poder. Embora seja um termo mais recente, é importante reconhecer que sua construção se deve, em grande parte, às vozes ancestrais e às experiências das mulheres negras nessa luta, seja de forma direta ou indireta.

Nesse sentido, é impossível não lembrar de figuras como minha avó, Dona Eulina, uma mulher afro-indígena que me ensinou sobre remédios naturais, a importância do plantio e a conexão com a natureza. Ela não era uma ativista no sentido tradicional, mas sua sabedoria sobre a vida em comunhão com a terra ecoa profundamente até hoje. O fato de ela ter partido antes de o termo “racismo ambiental” se popularizar nos faz refletir sobre quantas avós compartilham conhecimentos semelhantes sobre plantas e a relação com a terra.

Além do legado de mulheres como Dona Eulina, é importante reconhecer figuras notáveis como Wangari Maathai, a ambientalista queniana que liderou o movimento do Green Belt, reflorestando áreas e empoderando mulheres em sua comunidade.

No contexto brasileiro, temos muitas mulheres negras intelectuais e ativistas que contribuem para a luta por uma vida digna, mas suas contribuições frequentemente são apagadas. Nomes como Carolina Maria de Jesus, Joice Paixão, Sara Marques, Regina Santos, Marina Silva e Mãe Bernadete são exemplos de mulheres que têm feito a diferença em diferentes áreas.

É imprescindível entender que o colonialismo no Brasil ainda afeta a população, especialmente a negra e indígena, que historicamente foi desumanizada e colocada como uma raça inferior. O colonialismo estabeleceu ideias de superioridade e inferioridade, causando danos psicológicos e materiais que persistem até hoje.

Ademais, existe uma violência sistêmica que se manifesta na dupla opressão do machismo e racismo, como Grada Kilomba destaca em seu livro “Memórias da plantação”.

Apesar de todas as injustiças, as mulheres negras são maioria nas lideranças que enfrentam questões climáticas e ambientais. Elas atuam com um profundo senso de coletividade e cuidado, ajudando umas às outras nas tragédias cotidianas. No entanto, essas contribuições muitas vezes não são reconhecidas.

Para combater o racismo ambiental, é essencial dar espaço a perspectivas diversas, incluindo a voz das comunidades periféricas, quilombolas e indígenas. A representatividade nas esferas de poder e decisão relacionadas ao meio ambiente no Brasil é predominantemente branca, e isso precisa mudar.

É fundamental reconhecer a importância da conexão com a ancestralidade e incorporar conhecimentos tradicionais em nossas soluções. Somente assim poderemos construir um futuro mais inclusivo e sustentável para todos.

Sankofa. Por todas as mulheres negras que abriram caminho para que hoje estejamos na luta! ***Este conteúdo é uma coluna de opinião e reflete as ideias de seu autor, não necessariamente as do veículo.

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