Falta de preparo nas licenciaturas: Estagiários não são devidamente orientados e vivenciam poucas atividades práticas nas escolas, revela pesquisa

Um estudo conduzido pelo Instituto Península revelou que apenas 20% dos professores brasileiros consideram que o modelo atual de estágio utilizado na formação docente é ideal. A pesquisa, intitulada “Pesquisa Pulso 2023: Políticas Educacionais Sob a Ótica dos Professores”, entrevistou 3.029 docentes de diferentes regiões do país, entre os meses de julho e agosto deste ano. Os resultados mostram que os estagiários muitas vezes não participam de atividades práticas e tampouco recebem orientação adequada durante o estágio.

Essa preocupante realidade na formação de professores no Brasil ganha ainda mais destaque quando se observam os dados de outra análise realizada pela ONG Todos pela Educação. De acordo com essa análise, apenas 13,7% dos formandos em licenciatura cumpriram as 400 horas mínimas obrigatórias de estágio. Mais da metade dos formandos (55%) realizou menos de 300 horas de estágio e quase 12% não cumpriram nenhuma carga horária. Vale ressaltar que essas são as cargas horárias declaradas pelos formandos, o que impede a mensuração dos casos em que os estudantes obtêm a assinatura da escola sem ter cumprido efetivamente o estágio.

Luís, um professor de inglês de 34 anos da rede estadual de São Paulo, que preferiu não revelar sua identidade, afirma que enfrentou e ainda enfrenta dificuldades por ter concluído a faculdade sem ter a mínima ideia da realidade das escolas e de como lidar com os desafios do cotidiano da sala de aula. Durante seu estágio, Luís teve que ficar apenas observando aulas sem ser chamado para atuar nas atividades, o que desestimulou sua participação. Ele acredita que apenas 10% de sua turma de faculdade tenha cumprido a carga horária obrigatória de estágio.

Outro fator preocupante na formação dos docentes é o fato de mais de 60% dos professores se formarem em cursos de pedagogia a distância. Essa modalidade de ensino amplia ainda mais a necessidade de uma política de estágio eficiente no país. Heloisa Morel, diretora-executiva do Instituto Península, ressalta que os estagiários no campo da educação não são acolhidos nem tratados como protagonistas nas escolas. Ela defende a implementação de uma nova política de estágios, com critérios para mensurar sua qualidade, além de uma coordenação entre as instituições de ensino superior e as redes de ensino.

No município de São Carlos, interior de São Paulo, o Instituto Península apoiou um projeto que visava à articulação entre as escolas locais e as faculdades da região que formam professores. O objetivo desse projeto era planejar melhor a distribuição de estagiários e promover sua participação ativa nas atividades da sala de aula, em vez de apenas observarem. Para Luís, a formação dos professores deve estar conectada à realidade da educação no país e fornecer ferramentas para lidar com conflitos e diferentes níveis de aprendizado em uma mesma turma.

Esses dados evidenciam a urgência de se repensar e reformar a formação de professores no Brasil. É fundamental que os futuros docentes sejam preparados de forma mais efetiva para enfrentar os desafios reais da sala de aula, com estágios que permitam vivenciar na prática o que é ser professor. Uma coordenação mais estreita entre as instituições de ensino e as redes de ensino também se faz necessária para garantir a qualidade dos estágios e proporcionar aos estagiários uma experiência mais enriquecedora durante sua formação docente.

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