Exposição retrospectiva “Oficina+ Escola: Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo – Mobiliário Atemporal” celebra 150 anos da instituição.

“Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo: Uma história de 150 anos deixando sua marca na cidade”

Em 1873, a elite cafeeira paulista decidiu estabelecer a Sociedade Propagadora da Instrução Popular, uma instituição privada e filantrópica com o objetivo de formar mão de obra qualificada para a emergente indústria em São Paulo. Nessa época, o Brasil estava se preparando para a transição da Monarquia para a República e ainda vivia sob o regime escravagista. Pouco tempo depois de sua fundação, a instituição passou por uma reforma curricular e começou a oferecer cursos de Belas Artes e aulas práticas de profissionalização, como serralheria, marcenaria e carpintaria. Assim surgiu o Liceu de Artes e Ofícios, nome que é conhecido até os dias de hoje.

Ao longo dos últimos 150 anos, o Liceu passou por várias transformações e atualmente atua como uma escola de ensino médio. No entanto, sua história ainda está viva nas diversas obras produzidas por suas oficinas, que deixaram marcadas pela cidade de São Paulo. Desde as poltronas do Theatro Municipal até os portões de entrada de edifícios no centro da cidade, o legado do antigo Liceu está presente em vários pontos da capital paulista. Nem mesmo o incêndio que atingiu seu Centro Cultural em 2014 foi capaz de apagar essa história.

Neste ano, o Liceu está comemorando seus 150 anos e decidiu refletir sobre sua trajetória e legado por meio de uma exposição retrospectiva intitulada “Oficina+ Escola: Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo – Mobiliário Atemporal”. A mostra, que conta com curadoria de Guilherme Wisnik e Fernanda Carvalho, apresenta uma coleção de móveis e desenhos criados nas oficinas do Liceu, tendo passado por mãos de grandes nomes da cultura brasileira, como Victor Brecheret, John Graz e Adoniran Barbosa.

Um aspecto interessante do Liceu é a forte influência dos imigrantes europeus em sua história. Principalmente os italianos, que compunham a maioria dos estudantes e mestres, contribuíram significativamente para o conhecimento de manufatura aplicado nas oficinas de marcenaria, serralheria e produção de vidro. A instituição conseguiu combinar práticas pedagógicas com habilidades manuais, o que a tornou uma referência no mobiliário brasileiro.

O Liceu teve um papel importante na produção industrial da cidade de São Paulo, tanto atendendo às residências da burguesia quanto participando de grandes obras públicas. Sob a direção do engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo, a instituição comercializava seus produtos, fabricando caixilhos, portões, frisos e até mesmo estátuas monumentais. Além disso, foi responsável pelo desenvolvimento e fabricação do primeiro hidrômetro nacional.

Uma característica marcante do Liceu é o trabalho coletivo e anônimo. As obras produzidas nas oficinas raramente levavam assinaturas, o que ressaltava o foco no produto final em vez do indivíduo que o criou. Essa característica diferenciava as artes aplicadas das artes eruditas do século XX e estabelecia uma conexão com a tradição e o folclore.

A exposição é dividida em três partes que abordam o contexto histórico e social de São Paulo em 1873, as atividades para a produção industrial e o desenvolvimento do estilo e da estética do Liceu ao longo do tempo. Além das peças de mobiliário, a mostra apresenta documentos e vídeos que ajudam a contar a história da instituição.

Ao refletir sobre seu passado e presente, o Liceu também discute sobre o futuro e a transição do trabalho manual para a fabricação digital, incluindo impressão 3D e robótica. A exposição “Oficina+ Escola” estará em cartaz até 17 de fevereiro de 2024 e é uma oportunidade para conhecer e valorizar uma parte importante da história e cultura de São Paulo.

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