Infância em perigo: o peso excessivo de compromissos e responsabilidades prejudica desenvolvimento saudável das crianças

No Dia das Crianças, as lojas de brinquedos ficaram lotadas, o que trouxe alegria tanto para as crianças quanto para os donos dos estabelecimentos. É uma cena emblemática que ilustra um problema cada vez mais presente na sociedade: as crianças estão carregando um fardo desproporcional, que vai além de sua capacidade saudável de suportar.

A infância é um período crucial para o ser humano, pois é a única chance de estar em seu estado natural e descobrir o mundo de forma livre e sem interferências. É nessa fase que se inicia o processo de autoconhecimento e é onde a personalidade começa a se formar. Por isso, a infância é uma fase que será revisitada ao longo da vida, já que todos carregam consigo a criança que um dia foram.

No entanto, atualmente as crianças são pressionadas a crescerem mais rápido do que o necessário. A infância está sendo encurtada e as crianças estão se comportando e se vestindo como adultos, enquanto os adultos estão se tornando cada vez mais infantilizados emocionalmente. A linha que divide o universo infantil do universo adulto está se tornando cada vez mais tênue.

Os pequenos estão abarrotados de compromissos, com uma agenda cheia de atividades como futebol, natação, dança, programação, entre outras. Os pais acreditam que ao instruir as crianças desde cedo, elas estarão mais preparadas para o sucesso no futuro. No entanto, essa ideia é um contrassenso, pois ao ensinar prematuramente algo que a criança poderia descobrir por si mesma, sua curiosidade é minada e sua habilidade de compreensão também é afetada. O que as crianças precisam é aprender a pensar, e não apenas o que pensar.

Ao preencher a agenda das crianças, estamos roubando o tempo que eles tanto precisam para brincar. O melhor que podemos fazer para o sucesso delas é justamente o contrário: permitir que elas vivam o presente, vivam a infância sem serem projetos de adultos. A infância acaba no momento em que começamos a nos preocupar com o futuro.

Neil Postman, um crítico da comunicação de massa, afirmou em seu livro “O Desaparecimento da Infância” que a televisão rompe a barreira entre infância e fase adulta ao expor as crianças a informações que elas não deveriam ter acesso. Atualmente, as interferências vêm de diversas fontes, tornando o desafio ainda maior.

O documentário “A Invenção da Infância” mostra que ser criança não é o suficiente para se ter uma infância plena. Ela depende de outros fatores, como as oportunidades proporcionadas para as crianças.

Quando o brinquedo se torna mais importante do que a brincadeira, é sinal de que algo está errado. As crianças precisam de tempo ocioso, de espaço para buscar, inventar, imaginar e fantasiar. A infância é o melhor presente que podemos oferecer a elas.

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