A chefe da divisão de Políticas Transversais da Secretaria da Saúde do RS, Marilise Fraga de Souza, destacou que a mobilização dos profissionais de saúde foi impressionante, principalmente considerando que muitos deles também foram afetados pela tragédia. Essa solidariedade reflete o espírito da comunidade, que estava disposta a se ajudar desde o início.
A busca ativa pelo atendimento psicológico tem sido uma parte importante do trabalho dos profissionais. A psicóloga Adriana Dallanora ressaltou a importância de ir até a população antes mesmo que eles peçam ajuda. Segundo ela, muitas pessoas estavam ocupadas limpando e arrumando suas casas destruídas, e perguntar como elas estavam abria um canal de comunicação para que elas pudessem compartilhar suas angústias.
Daielle Marion, uma psicóloga que trabalhou na região, decidiu escrever um livro sobre o que ouviu e vivenciou durante esse período. Ela ouviu relatos tristes e assustadores, como filhos que receberam telefonemas de despedida de pais idosos antes de serem levados pela chuva, pessoas que não conseguiram ajudar em situações de socorro e uma mulher que foi salva pelo marido, mas viu ele ser levado pela correnteza. Esses relatos são reflexo do trauma vivenciado pela população durante a enchente.
Passados os primeiros atendimentos pós-traumáticos, o desafio agora é fazer a transição entre os profissionais voluntários e as equipes permanentes de psicólogos em cada município. As autoridades de saúde também estão preocupadas com a alta taxa de suicídios no interior do RS, e sabem que há um trabalho longo pela frente para lidar com os enormes desafios à saúde mental da região.
Apesar do medo de um novo avanço do rio Taquari, é importante que os municípios afetados não se tornem cidades fantasmas. Durante o processo de reconstrução das casas, empresas e equipamentos públicos, a comunidade precisa se unir e ser solidária. Como diz o cartaz fotografado pela psicóloga Daielle em uma das igrejas: “Se não temos sol todos os dias, temos uns aos outros”. A reconstrução física é importante, mas o apoio emocional mútuo também é fundamental para superar esse trauma coletivo.