Coordenador regional da Funai no Vale do Javari, conhecido como pacifista, morre aos 46 anos após ser picado por cobra

A nomeação de um novo coordenador regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) no Vale do Javari, na Amazônia, se mostrou uma escolha óbvia para um grupo de pessoas da etnia marubo. Panã Marubo, amplamente considerado como uma pessoa ponderada e capacitada, era visto como o pacifista necessário para apaziguar os ânimos na região.

De acordo com Beto Marubo, primo de Panã, a tensão política na região, juntamente com outros conflitos antigos, exigia a presença de alguém que dominasse a língua e a forma de comunicação com os não indígenas. Esse embate interétnico em Atalaia do Norte, no Amazonas, impacta diretamente as questões político-partidárias, tendo efeito tanto dentro quanto fora da aldeia.

Panã, cujo nome em marubo é Walciley Oliveira Duarte, nasceu em julho de 1977 no clã vari-nawavo. Sua trajetória foi marcada pela prática de uma filosofia ancestral fundamental para a sua geração. Segundo Beto, essa filosofia afirmava que os marubos dos tempos modernos deveriam necessariamente considerar e se preparar para lidar com esses dois mundos, caso contrário seriam atropelados.

Aos 12 anos de idade, Panã começou a transitar entre esses dois mundos – o ancestral e o moderno – no Conselho Indígena do Vale do Javari, que mais tarde se tornaria a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Ele também foi um dos primeiros indígenas a concluir o ensino superior, graduando-se em pedagogia.

A graduação em pedagogia permitiu que Panã formasse outros indígenas, inclusive na área de educação indígena em Atalaia do Norte, onde atuou por oito anos. Além disso, ele participou do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena no Amazonas, deixando um legado importante na formação de indígenas em universidades renomadas pelo país.

A tentativa de indicar Panã para a coordenação regional da Funai em Atalaia do Norte começou no fim do ano passado e foi concretizada em abril deste ano, por sua capacidade de apaziguar conflitos. Apesar de ter enfrentado a hepatite entre as décadas de 1990 e 2000, sua saúde nunca atrapalhou suas atividades e projetos, pois ele não queria ser visto como alguém convalescente, mas sim como alguém que contribuía de forma significativa para o movimento indígena.

Infelizmente, Panã faleceu aos 46 anos após ser picado por uma cobra no último sábado (14), enquanto estava na zona rural de Atalaia do Norte. Sua morte deixou um grande vazio na comunidade e na luta pelos direitos indígenas. Além das homenagens de parentes e amigos, sua trajetória também foi lembrada pela Funai e por organizações como o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), que reconheceram sua importância como uma figura que ancestralizou.

Esse é mais um triste episódio que evidencia os desafios enfrentados pelos povos indígenas na Amazônia, tanto em relação às constantes ameaças à sua terra e cultura, quanto na busca por lideranças que possam representá-los de forma digna e efetiva. A perda de Panã Marubo é sentida não apenas por sua comunidade, mas por todos aqueles que lutam pela preservação e reconhecimento dos direitos indígenas.

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