É importante destacar que a análise se concentra especificamente nos eventos associados à crise do clima, com base em estudos de atribuição climática. Um exemplo desse tipo de pesquisa é a análise que identificou que a mudança do clima aumentou em 100 vezes a probabilidade da onda de calor recente no Brasil.
Os pesquisadores utilizaram uma base de dados contendo 185 eventos extremos ocorridos entre 2000 e 2019. Nesses eventos, foram registradas 60.951 mortes relacionadas à crise climática. A maior parte dos danos está associada a tempestades (mais de 64% dos custos), seguidas por ondas de calor (16%), enchentes e secas (10%) e incêndios florestais (2%).
Em termos de prejuízos econômicos, o ano de 2008 foi o mais afetado, com custos estimados em US$ 620 bilhões. No entanto, é importante salientar que esses valores não levam em conta os custos indiretos em termos de vidas humanas, como problemas de saúde física e mental, bem-estar e perda de produtividade, além dos custos gerais, como danos em pequenos negócios, desemprego temporário e quebra de cadeias de suprimentos.
No que diz respeito aos países mais pobres, o estudo revela que eles são mais afetados pelos eventos extremos atribuíveis à crise climática. Enquanto nas nações mais ricas o custo climático representa cerca de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) anual, nos países mais pobres esse valor chega a 1% do PIB. Essa diferença é explicada pela alta taxa de mortalidade nessas regiões, resultado da falta de sistemas de alerta precoce e procedimentos de segurança.
Diante dos resultados, os cientistas enfatizam a importância de aumentar os esforços de mitigação das mudanças climáticas, ou seja, reduzir as emissões de gases de efeito estufa, bem como adotar medidas de adaptação climática. Segundo eles, a adaptação pode fazer uma diferença significativa nos impactos econômicos dos eventos extremos atribuíveis à mudança climática, por meio do desenvolvimento de infraestrutura de proteção e melhorias nos sistemas de alerta precoce.
No entanto, os pesquisadores ressaltam que o estudo subestima os verdadeiros custos das mudanças climáticas, uma vez que não leva em conta os custos indiretos mencionados anteriormente. Nesse sentido, eles destacam a importância de obter melhores dados econômicos para aprimorar as estimativas de custos associados à crise climática. Essas informações podem ser fundamentais para embasar a alocação de recursos do Fundo para Perdas e Danos, criado durante a COP27, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, no ano passado. Esse fundo tem como objetivo fornecer recursos para a reparação de danos climáticos em países particularmente vulneráveis.
Em suma, os eventos extremos relacionados à crise climática têm gerado custos significativos em termos de vidas humanas perdidas e prejuízos econômicos. A redução desses custos dependerá do aumento dos esforços de mitigação e adaptação climática, bem como de uma melhor compreensão dos impactos indiretos da crise climática.