Comunidades Compassivas: A Importância dos Cuidados Paliativos e Hospices na Sociedade

No último sábado, dia 14 de outubro, o mundo celebrou mais uma edição do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos e Hospices. Essa data, que ocorre sempre no segundo sábado de outubro há 19 anos, é marcada por uma campanha global que busca promover e apoiar o desenvolvimento dos Cuidados Paliativos (CP) em todo o mundo. Cada ano, um tema é escolhido para jogar luz sobre uma demanda relevante da área, e para 2023, o tema escolhido foi “Comunidades Compassivas: Juntos pelos Cuidados Paliativos”.

De acordo com a médica Maria Perez Soares D’Alessandro, coordenadora do Projeto de Cuidados Paliativos do Proadi-SUS, as Comunidades Compassivas são iniciativas comunitárias que se associam aos cuidados paliativos, onde pessoas de uma mesma comunidade se organizam para auxiliar indivíduos que vivem com doenças ameaçadoras da vida e seus familiares em situação de luto e perda. A proposta é que as pessoas da comunidade assumam a responsabilidade de cuidar da saúde das pessoas vulneráveis que fazem parte dela.

É importante ressaltar que os cuidados paliativos não se limitam apenas aos cuidados de fim de vida para pessoas em processo de morte. Embora esse tipo de cuidado seja parte importante dos CP, há uma ideia equivocada de que os cuidados paliativos são apenas para pessoas que não têm mais chances de sobrevivência. Maria Perez afirma que essa é uma afirmação que ainda circula nas redes sociais, inclusive entre profissionais de saúde e comunicadores.

Para a médica, a participação da sociedade é essencial nesse contexto, pois os CP visam aliviar o sofrimento em todas as dimensões (física, emocional, espiritual e social), além de adotar uma abordagem centrada na pessoa, não na doença. É necessário entender as demandas individuais de cada paciente e perceber que os serviços de saúde não são suficientes, sendo preciso uma rede de apoio.

Nos últimos anos, a organização de comunidades compassivas tem aumentado no Brasil. Um exemplo é o projeto “Favela Compassiva: Rocinha e Vidigal”, que atua nas favelas do Rio de Janeiro. Desde 2018, moradores dessas comunidades recebem capacitação de profissionais de saúde e formam uma rede de apoio voluntária, apta a acolher pacientes com doenças ameaçadoras da vida e em situação de vulnerabilidade social.

No dia 4 de outubro deste ano, ocorreu o 3º Encontro do Projeto de Cuidados Paliativos do Proadi-SUS, onde a importância das comunidades compassivas foi destacada. O professor Alexandre Silva, coordenador da Pós-Graduação em Cuidados Paliativos da Universidade Federal de São João del Rei, compartilhou histórias de pacientes que não tinham nenhuma rede de apoio em casa e foram encontrados em situações precárias.

A elegibilidade para receber cuidados paliativos é confirmada por médicos e o primeiro passo é vincular os pacientes à rede de saúde. Alexandre ressalta a importância de integrar a rede de saúde para que a atenção primária seja reconhecida como a grande coordenadora do cuidado. Ele destaca que a comunidade compassiva não substitui o papel do Estado, mas é um apoio essencial.

O mais importante é que as comunidades compassivas dependem de contribuições e apoio para que os pacientes recebam medicamentos, alimentos e materiais de higiene. Um dos projetos mais conhecidos, o Favela Compassiva, conta com a participação de parceiros e doações para se manter e continuar auxiliando as pessoas em situações vulneráveis.

Além disso, no ano passado, surgiu um movimento apoiador muito especial. Patricia Perissinotto Kisser, esposa do músico Andreas Kisser, do Sepultura, faleceu em decorrência de um câncer e expressou seu desejo de realizar uma festa para celebrar o fim de seu ciclo de tratamento. Andreas decidiu honrar a vontade da esposa e realizou a primeira edição do “Patfest” no ano passado. O evento contou com a presença de mais de 50 artistas e o valor dos ingressos foi revertido para a Comunidade Compassiva.

A força dessas iniciativas mostra que as comunidades compassivas têm o potencial de transformar vidas e promover um cuidado mais humanizado e digno para pacientes em situações vulneráveis. É necessário ampliar essas ações e a conscientização sobre a importância dos cuidados paliativos em todas as esferas da sociedade.

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