Marília relata que o parto foi diferente dos anteriores, pois foi necessário fazer uma cesariana de emergência devido a uma grande quantidade de mecônio no exame. Durante o procedimento, a equipe médica descobriu um nó no cordão umbilical, aumentando ainda mais os traumas emocionais da situação.
Após o parto, o recém-nascido precisou ser entubado e Marília visitou seu bebê na UTI, sendo capaz de tocá-lo e conversar com ele, mas não de segurá-lo. Tragicamente, às 2h da madrugada, o pai de Lourenço, o psicólogo João Paiva, retornou da UTI com a notícia devastadora de que seu filho havia falecido.
A família se deparou com o tabu que envolve a morte de recém-nascidos e a falta de preparo da equipe médica, da escola e da sociedade em geral para lidar com essa perda. Marília sentiu-se desprezada e tratada apenas como uma paciente, e não como uma mãe que acabara de perder o filho.
A escrita tornou-se uma forma de Marília processar sua dor e encontrar algum sentido na perda. Inicialmente, ela escrevia em um diário como uma tentativa desesperada de dar vazão aos seus sentimentos. Mais tarde, decidiu transformar sua escrita em uma monografia sobre terapia familiar, mas percebeu que era necessário tirar a parte teórica para torná-la mais pessoal e emocional.
Marília enfrentou muitos desafios durante o processo de luto. Ela sentia um vazio dentro de si e sofria tanto física quanto emocionalmente. Encontrar suporte e compreensão adequados era uma tarefa difícil e solitária.
A autora enfatiza a importância de rituais e espaços para lidar com a perda e dar visibilidade à dor. Ela compartilha a experiência de outras mães que também perderam seus filhos e destaca a necessidade de quebrar o tabu em torno dessa perda.
Embora o livro seja um relato íntimo da jornada de Marília, ela espera que ele possa iluminar o tema e acalentar o coração das pessoas que passaram por situações semelhantes. Marília encerra o livro refletindo sobre como suas palavras a ajudaram em sua própria jornada de luto e como elas podem ser uma despedida do sofrimento.
A obra de Marília, “Nó”, é uma narrativa corajosa e necessária que traz à tona questões importantes e muitas vezes negligenciadas sobre a perda de um filho. É um testemunho comovente de uma mãe que encontrou na escrita uma maneira de lidar com sua dor e reconstruir seu lugar no mundo após a tragédia.
