Desenvolvimento do soro antilonômico pelo Instituto Butantan no tratamento de envenenamento pela lagarta Lonomia oblíqua.

Nos anos 1990, o Brasil testemunhou um aumento no número de envenenamentos causados pela lagarta Lonomia oblíqua, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país. Esse aumento pode ser atribuído principalmente ao desmatamento, que levou a um aumento da população de lagartas em áreas urbanas. O veneno presente nas cerdas dessa lagarta pode causar alterações graves na coagulação e hemorragias, podendo levar à morte caso o paciente não seja tratado rapidamente. Foi esse cenário que motivou o desenvolvimento do soro antilonômico pelo Instituto Butantan em 1996. Atualmente, o Brasil é o único país produtor desse antiveneno.

O soro antilonômico contém anticorpos capazes de neutralizar o veneno em circulação no sangue, normalizando os parâmetros de coagulação e evitando complicações graves. A dose a ser administrada depende da gravidade do envenenamento, que é definida a partir dos sintomas e sinais clínicos apresentados pelo paciente. O Instituto Butantan produz cerca de 5 mil ampolas desse soro por ano, que são enviadas ao Ministério da Saúde para distribuição através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo a médica Ceila Málaque, do Hospital Vital Brazil, referência no tratamento de pacientes acidentados com animais peçonhentos, é de extrema importância que a pessoa busque atendimento médico o mais rápido possível após o contato com a lagarta. Ela ressalta que, se possível, fotografar o animal pode auxiliar no diagnóstico e agilizar a aplicação do soro. A demora no atendimento pode ter graves consequências, como foi o caso de uma jovem canadense que pisou em cinco lagartas durante uma viagem ao Peru e só procurou um hospital sete dias depois. O envenenamento progrediu para hemorragia pulmonar, lesão renal aguda e coagulação intravascular, levando à falência de múltiplos órgãos.

O soro antilonômico tem se mostrado eficaz no neutralização rápida do veneno, especialmente quando administrado precocemente. Um caso recente relatou a recuperação de um homem de 44 anos que apresentava hematomas espalhados pelo corpo e sangue na urina após ter sido picado por uma lagarta. Após a administração do soro, o sangue na urina diminuiu após três horas e, em 12 horas, os parâmetros de coagulação começaram a se normalizar.

Além disso, um homem inglês de 29 anos foi envenenado ao pisar em uma taturana na Guiana e só recebeu o soro antilonômico após seis dias do acidente. Mesmo com a demora, o homem recebeu 10 frascos do antiveneno e teve alta duas semanas depois.

Para evitar acidentes, é importante que as pessoas estejam cientes de que a maioria dos envenenamentos ocorre entre janeiro e abril no Brasil, tanto em áreas urbanas quanto rurais. As lagartas costumam ficar agrupadas nos troncos de árvores frutíferas durante o dia e saem à noite para se alimentar. Caso seja avistada uma lagarta, não é recomendado tocar nela e o Controle de Zoonoses deve ser acionado. Em caso de acidente, é fundamental buscar atendimento médico imediato e, se possível, tirar uma foto do animal para auxiliar no diagnóstico.

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