Wokismo: a ampliação do despertar para as injustiças raciais e além, enfrentando a onda anti-woke no Brasil

O termo “woke”, originado da comunidade afro-americana nos Estados Unidos, tem sido cada vez mais utilizado para descrever um despertar para as injustiças raciais e outras formas de discriminação. Este conceito ganhou força com o movimento Black Lives Matter e agora abrange uma gama mais ampla de desigualdades e discriminações, sendo associado ao politicamente correto e a uma cultura de cancelamento.

No entanto, a expressão “anti-woke” tem emergido como uma reação a esse movimento, levando a restrições ao debate sobre questões como gênero, diversidade, racismo e sexualidade nas escolas e universidades norte-americanas. Esse fenômeno tem aumentado as tensões no que diz respeito à inclusão social.

Embora algumas pessoas usem a onda anti-woke como forma de disfarçar seu racismo, misoginia e homofobia, o presidente da Fundação Ford, Darren Walker, acredita que a maioria das pessoas está interessada em construir uma sociedade mais inclusiva e justa. Ele afirma que não podemos retroceder nesse compromisso.

Durante sua visita ao Brasil, Walker encontrou-se com representantes de grupos de direitos humanos, ativistas digitais, lideranças indígenas, do movimento negro e quilombolas, ressaltando a importância do país no cenário global. Ele avalia que o Brasil enfrenta um desafio para reconciliar sua história e realidade, especialmente em relação à noção de uma democracia racial.

No que diz respeito aos direitos LGBTQIA+, Walker destaca que houve progresso em ambos os países, mas também há esforços para minar a inclusão dessas pessoas. Ele ressalta a importância de lutar por uma democracia em que todos possam viver com dignidade e participar plenamente da sociedade.

Como beneficiário de políticas de cotas nos EUA, Walker critica a decisão da Suprema Corte do país de rejeitar essas políticas, afirmando que isso lança uma sombra sobre as aspirações de inclusão racial plena. Ele ressalta que os programas de ação afirmativa, como as cotas raciais, podem fortalecer a democracia no Brasil, tornando organizações, empresas e governo mais responsivos à diversidade da população.

Em relação à onda anti-woke, Walker acredita que ela é uma máscara para o racismo e para a neutralização de narrativas que questionam as hierarquias históricas de patriarcado e branquitude. Ele vê sinais desse processo no Brasil e destaca a presença de hierarquias na sociedade brasileira, que marginalizaram historicamente os negros.

Quanto ao reconhecimento do privilégio, Walker ressalta que é uma tarefa difícil para as pessoas abrirem mão de algo conquistado com tanto esforço. No entanto, ele argumenta que o acúmulo de privilégios gera raiva e ressentimento nas massas, prejudicando toda a sociedade. Ele defende a filantropia como um caminho para trabalhar nas causas raízes das desigualdades e construir uma sociedade mais igualitária.

Apesar de não contar com incentivos fiscais para doações como nos Estados Unidos, Walker se mostra encorajado pelo crescimento da cultura filantrópica no Brasil, destacando o potencial do país nesse aspecto.

Em resumo, o movimento “woke” tem despertado discussões sobre questões de justiça racial e outras formas de discriminação. Enquanto isso, a onda anti-woke surge como uma reação, mas Walker acredita na maioria das pessoas interessadas em uma sociedade mais inclusiva e justa. Ele destaca os desafios enfrentados pelo Brasil em relação à sua história racial e defende a importância dos programas de ação afirmativa. Além disso, Walker chama a atenção para as hierarquias presentes na sociedade brasileira e a necessidade de abrir mão de privilégios em prol de uma sociedade mais igualitária.

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