Desânimo dos eleitores chilenos ameaça segunda tentativa de redigir nova Constituição e endurecer leis conservadoras.

Os eleitores chilenos estão desanimados com a segunda tentativa de redigir uma nova Constituição para o país, liderada pelos conservadores. Isso se deve ao fato de que as propostas de endurecer as já restritivas leis chilenas sobre o aborto e outras medidas à direita estão ameaçando afastar a maioria dos eleitores.

De acordo com uma pesquisa da empresa de pesquisas Cadem, mais da metade dos chilenos, aproximadamente 54% dos entrevistados antes da conclusão do texto preliminar nesta semana, planeja votar contra a nova Constituição. Essa alta taxa de rejeição se deve à desaprovação das mudanças propostas e à desconfiança nos conselheiros responsáveis por reescrever o texto, além de outras preocupações, como o aumento da criminalidade.

Catalina Lagos, membro de uma comissão de especialistas responsável por revisar a minuta, argumenta que o texto atual “não reflete a sociedade chilena como um todo, mas apenas um setor político”. Lagos afirma que ainda há tempo para moderar a Constituição proposta. No entanto, a consultoria Teneo alertou que todo o processo pode entrar em colapso caso o conselho se recuse a aceitar as mudanças propostas pela comissão de especialistas.

É importante mencionar que o conselho constituinte atual é dominado por membros mais à direita, após a rejeição da primeira tentativa pelos chilenos em um referendo em 2022. O texto anterior, elaborado principalmente por políticos de esquerda, era considerado progressista, mas também foi criticado por não representar a sociedade como um todo.

O pêndulo ideológico no Chile reflete o desconforto de muitos chilenos com os extremos de ambos os lados, menos de dois anos após o início da presidência do esquerdista Gabriel Boric. Segundo Lagos, o pêndulo agora está pendendo na direção oposta.

Em relação ao tema do aborto, o primeiro texto da nova Constituição permitia “a interrupção voluntária de uma gravidez”. A proposta atual faz uma mudança gramatical em uma cláusula constitucional que os defensores do aborto já consideram restritiva. Essa mudança linguística se refere ao feto usando um pronome pessoal em vez do impessoal atual.

Antonio Barchiesi, conselheiro do Partido Republicano de extrema-direita, afirmou que “o escopo legal da norma atual não muda”, mas a mudança destaca que “há alguém” no centro da cláusula. No entanto, Lagos argumenta que essa mudança, juntamente com outra proposta que define uma criança como qualquer ser humano com menos de 18 anos, poderia abrir caminho para leis de aborto mais restritivas.

Os defensores do direito ao aborto estão preocupados com a possibilidade de um ressurgimento da direita na região interromper o progresso ou retroceder os direitos reprodutivos. Em um comício em Santiago, uma estudante de 26 anos expressou sua preocupação com o direito ao aborto, afirmando que se um partido político puder redigir uma Constituição com certas diretrizes, quem garante que eles não farão o mesmo com leis no futuro?

Além disso, especialistas argentinxs estão observando de perto a situação no Chile, considerando que o país está tendo uma reação contrária à Constituição anterior, que muitos também acreditavam não representar a população de forma adequada. É importante destacar que outros países da região, como México e Argentina, têm avançado no direito ao aborto, e o ressurgimento da direita no Chile pode ter um impacto negativo nessa questão.

Em resumo, os eleitores chilenos estão desanimados com a segunda tentativa de redigir uma nova Constituição, liderada pelos conservadores. As propostas de endurecer as leis sobre o aborto e outras medidas à direita estão causando desaprovação e preocupação, levando muitos chilenos a planejarem votar contra a nova Constituição. Existe a esperança de que as mudanças propostas possam ser moderadas, mas também há o receio de que o processo possa entrar em colapso. Além disso, o pêndulo ideológico do país sugere um desconforto com os extremos de ambos os lados. O debate em torno do aborto também é intenso, com defensores preocupados com o retrocesso nos direitos reprodutivos. A situação no Chile está sendo observada de perto por especialistas de outros países da região, que temem que a direita possa interromper o progresso nessa questão.

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