Aliança entre narcomilicianos e Comando Vermelho resulta em assassinato de médicos no Rio de Janeiro

No dia 14 de fevereiro deste ano, uma foto chocante circulou nas redes sociais, mostrando um homem ensanguentado sentado no banco traseiro de um carro, com pistolas apontadas para o seu rosto. Segundo a postagem que acompanhava a imagem, o homem estava sendo levado da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio de Janeiro, até o Complexo da Penha, uma comunidade da zona norte, a uma distância de 26 quilômetros. Alegava-se que ele era suspeito de ser um colaborador da polícia e seria executado por traficantes no local de destino.

Até o momento, a vítima não foi identificada pela polícia, mas essa foto serviu como base para a Delegacia de Homicídios solicitar à Justiça a quebra de sigilo telemático de suspeitos de integrar uma organização criminosa dissidente de milicianos que teriam feito uma aliança com os chefes do Comando Vermelho em 2021.

Com a autorização judicial, os perfis dos suspeitos em redes sociais foram monitorados e, na madrugada de quinta-feira (5), a polícia encontrou postagens referentes a um crime que chocou o país: o assassinato a tiros de três médicos que se confraternizavam em um quiosque na Barra da Tijuca, zona oeste.

As postagens comemoravam a suposta morte de Taillon Alcântara Pereira, acusado de fazer parte da milícia de Rio das Pedras, onde surgiu o primeiro grupo do tipo no estado nos anos 1990. No entanto, as investigações indicam que os atiradores teriam confundido um dos médicos, o ortopedista Perseu Almeida, com o suspeito.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, a união entre uma parte dissidente da milícia da Gardênia Azul e traficantes, formando o grupo conhecido como narcomilicianos, ocorreu no ano passado. Essa expressão é utilizada pelo governo Cláudio Castro para se referir a qualquer organização criminosa na cidade, mas é empregada por investigadores para designar regiões onde há uma junção específica do tráfico com milicianos, como é o caso da Gardênia Azul.

Há dois anos, houve uma discordância interna entre milicianos da Gardênia Azul e outros grupos, resultando na formação de narcomilicianos que buscaram apoio na Cidade de Deus, área controlada pelo Comando Vermelho. Liderados por Edgar Alves, conhecido como Doca ou Urso, esses milicianos estabeleceram uma aliança com a facção criminosa, permitindo a atuação do tráfico de drogas na Gardênia Azul em troca do compartilhamento de lucros e apoio em homicídios e refúgios para os narcomilicianos.

A investigação aponta que o objetivo final do Comando Vermelho é a conquista de Rio das Pedras, uma região bastante lucrativa devido à exploração das vans, estimando-se um lucro mensal de R$ 3 milhões. Após a aliança, um dos líderes da milícia local, conhecido como Lesk, foi rebatizado por Doca como CR7 e teve que seguir as regras estabelecidas pelo Comando Vermelho.

Tristemente, Lesk foi encontrado morto junto com outros três suspeitos de envolvimento no assassinato dos médicos. De acordo com a polícia, eles foram condenados por um “tribunal do tráfico” por terem tirado a vida de inocentes e seus corpos foram deixados em pontos distintos da zona oeste para evitar operações policiais em suas áreas.

Essa expansão do Comando Vermelho em parceria com ex-milicianos tem resultado em um aumento significativo do número de mortes na zona oeste do Rio de Janeiro. Apenas em uma rua, foram registrados 14 homicídios nos primeiros seis meses deste ano. A situação é preocupante e exige uma resposta efetiva das autoridades para combater essa aliança criminosa que está fazendo vítimas inocentes.

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