Ações do governo federal e estadual no Complexo da Maré preocupam presidente de ONG e levantam questionamentos sobre efetividade

Operação no Complexo da Maré preocupa presidente de ONG

Na última segunda-feira, o governador do Maranhão e ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, autorizou o envio de 570 homens, 50 viaturas e 22 blindados para o Rio de Janeiro como parte da “Operação Maré”. No entanto, a fundadora e presidente da ONG Redes da Maré, Eliana Sousa, vê com preocupação o planejamento das ações do governo federal e estadual no conjunto de 16 favelas. Sousa destaca a possibilidade dessa operação ser uma resposta pontual a uma situação específica, ao invés de uma solução estrutural para os problemas enfrentados pela comunidade.

Eliana Sousa, que também é professora do Insper e especialista em segurança pública, ressalta que não se pode entender as imagens de criminosos em treinamento de guerrilha dentro do Complexo da Maré sem levar em consideração o abandono das questões públicas pelo Estado. Para ela, o problema vai além da atuação dos grupos armados e está ligado à falta de compromisso e soberania do Estado em relação ao ordenamento urbano.

A fundadora da Redes da Maré também demonstra preocupação com o protagonismo das forças estaduais nas incursões anunciadas pelo governador Cláudio Castro. Segundo ela, as forças de polícia do Rio de Janeiro agem frequentemente fora da legalidade dentro da favela, o que coloca em risco a segurança dos moradores.

Sousa ressalta que a visita do ex-ministro da Justiça à Maré, realizada há sete meses, teve como objetivo chamar a atenção para os fracassos das políticas de segurança pública. No entanto, ela não sabe se as demandas apresentadas pela entidade foram levadas em conta na participação do governo federal na Operação Maré.

A ONG Redes da Maré produz boletins anuais que mostram a realidade do complexo de favelas. O último documento revelou que em 2022 foram registradas 39 mortes por armas de fogo na região, sendo que 27 ocorreram em contextos de operações policiais. Além disso, o boletim destaca que a maioria das operações ocorre perto de escolas, creches e unidades de saúde, causando a suspensão de aulas e atendimentos por vários dias.

As críticas e insinuações de ligação com o crime organizado sofridas pela ONG após a visita do ex-ministro da Justiça demonstram, para Sousa, a naturalização da ausência do Estado nessas áreas. Ela questiona por que as pessoas se admiram com a presença de um ministro da Justiça na região.

Os boletins produzidos pela Redes da Maré têm como objetivo chamar a atenção para a violência que faz parte do cotidiano das favelas, desnaturalizando a ideia de que confrontos e violações dos direitos humanos são algo comum nesses territórios. A fundadora da ONG destaca que os moradores das favelas não têm a mesma noção de segurança pública que outros segmentos da sociedade, pois suas experiências com a polícia sempre foram violadoras.

Diante disso, Eliana Sousa enfatiza a importância de dialogar e buscar soluções efetivas para as demandas do Complexo da Maré, em parceria com a prefeitura, o governo federal e o governo estadual. Ela acredita que a atual abordagem da Operação Maré pode gerar instabilidade na vida cotidiana dos moradores e reforçar uma lógica belicista, ao invés de promover mudanças estruturais que garantam a segurança e a cidadania na região.

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