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José Bonifácio, o Moço: um monumento esquecido na cidade de São Paulo.

A cidade de São Paulo enfrenta um problema constante em relação aos seus monumentos, que é tratá-los de forma desrespeitosa e negligente. Além de não receberem a manutenção adequada, essas esculturas estão quase sempre sujas, danificadas ou até mesmo sendo roubadas e fundidas.

Outro problema recorrente é o hábito da cidade de São Paulo de mudar os monumentos de lugar. Geralmente, isso ocorre devido a modificações nas vias da cidade. Muitos monumentos emblemáticos da capital paulista foram retirados de seus locais originais e realocados para outros pontos, deixando-os ofuscados e esquecidos.

Um desses monumentos é o de José Bonifácio, o Moço. Ele está atualmente em uma faculdade e, por isso, tanto a escultura quanto o homenageado são praticamente ignorados pelos paulistanos.

José Bonifácio, o Moço, era sobrinho-neto do Patriarca da Independência, filho de Martim Francisco Ribeiro de Andrada, irmão do famoso patriarca. Ele nasceu em Bordeaux, na França, em 1827, quando sua família vivia em exílio após a dissolução da assembleia constituinte de 1823 pelo D. Pedro I.

Para diferenciá-lo de seu tio famoso, ele foi apelidado desde cedo de “O Moço”. Apesar de conviver pouco com o Patriarca da Independência, José Bonifácio, o Moço, herdou o interesse pela política e pelo Brasil. Ele teve uma intensa carreira acadêmica e política, sendo aluno e posteriormente professor da Faculdade de Direito de São Paulo. Durante sua trajetória, ele teve alunos ilustres, como Rui Barbosa e Castro Alves.

Na política, José Bonifácio, o Moço, foi deputado provincial, deputado geral (equivalentes a deputado estadual e federal, respectivamente), senador imperial e ministro do império em duas oportunidades. Ele também defendeu o voto dos analfabetos e o sistema parlamentarista. José Bonifácio, o Moço, faleceu em 26 de outubro de 1886.

Após sua morte, houve um movimento intenso para eternizar seu legado por meio da construção de um monumento. A ideia contou com o apoio de figuras importantes, como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa. O francês Jules Martin, autor da primeira planta da província de São Paulo e do projeto do Viaduto do Chá, foi o principal incentivador da construção do monumento. A obra foi esculpida por Georges Engrand, também francês, e foi inaugurada em 1890 diante do convento dos Franciscanos.

Com mais de 9 metros de altura, o monumento se destacou em uma São Paulo pouco dotada de esculturas públicas. Ele se tornou um ponto de encontro para discursos, protestos e manifestações políticas.

No entanto, em 1935, o monumento foi desmontado para a realização de reformas viárias na região do centro velho de São Paulo. Sua base e pedestal foram destruídos, e a escultura foi movida para um depósito da prefeitura.

A retirada do monumento desagradou alunos e professores da Faculdade de São Francisco, pois José Bonifácio, o Moço, era uma das personalidades mais importantes da instituição e o monumento era um dos primeiros da cidade. Depois de cinco anos de discussões, a solução final foi encontrada em 1940, com a inauguração do novo prédio da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. A estátua foi instalada no saguão da academia, ocupando uma posição central e privilegiada, onde permanece até os dias de hoje.

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