Antes da pandemia, mais de 26 milhões de brasileiros já sofriam com sintomas de ansiedade e depressão, e esse cenário apenas piorou nos últimos tempos. De acordo com o Panorama da Saúde Mental, estudo lançado pelo Instituto Cactus, 71% das pessoas com sintomas compatíveis com depressão não recebiam tratamento em 2019. Além disso, 62% dos entrevistados da pesquisa não tinham acesso a nenhum tipo de serviço de apoio à saúde mental.
Para enfrentar esse desafio, é fundamental pensar em um modelo de serviço que atenda às necessidades da população de maneira ágil, eficaz e direcionada. Nesse sentido, a rede de atenção primária do SUS se mostra como uma alternativa. Presente em todos os municípios brasileiros, a atenção primária é a porta de entrada do sistema de saúde e suas equipes estão próximas às comunidades, conhecendo seus desafios e vulnerabilidades.
Estudos mostram que quando os transtornos mentais são identificados e tratados precocemente, as chances de agravamento são menores e o sucesso do tratamento é maior. Portanto, fortalecer e capacitar as equipes da atenção primária para identificar e apoiar pessoas que estão experimentando os primeiros sintomas de sofrimento mental é essencial.
No Brasil e no mundo, pesquisas e iniciativas estão ganhando espaço nesse sentido. Um exemplo é o projeto Empower, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. No Brasil, a organização sem fins lucrativos ImpulsoGov deu início a um projeto piloto em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, para fortalecer o cuidado em saúde mental a partir da atenção primária do SUS. Profissionais da saúde serão capacitados para identificar e oferecer cuidados primários de saúde mental para pessoas com sintomas leves e moderados de depressão, sob a supervisão de especialistas.
É importante ressaltar que essa abordagem não substitui o papel do especialista, mas amplia e qualifica a rede de cuidados oferecidos à população. Em um país com acesso limitado aos serviços de saúde mental e marcado por desigualdades sociais, fortalecer iniciativas na rede de atenção primária do SUS se apresenta como um caminho viável e escalável para reduzir a lacuna entre a demanda e a oferta de atendimento e garantir o direito de todos ao cuidado integral.