Maria e sua família fazem parte das mais de 4.000 famílias abastecidas pelos caminhões-pipa da Operação Estiagem, iniciada pela Defesa Civil do Rio Branco em julho. Neste ano, a operação já atendeu pelo menos 30 comunidades. Isso ocorre em um momento em que o rio Acre, responsável pelo abastecimento de água da capital do estado, atingiu níveis preocupantes, chegando a apenas 19 centímetros acima do mínimo histórico registrado em 2022.
Além do abastecimento de água, a seca na região também tem afetado a economia local. De acordo com o tenente-coronel Cláudio Falcão, coordenador da Defesa Civil em Rio Branco, a produção agrícola e a criação de animais têm sido prejudicadas, resultando em uma perda de cerca de 40% na economia dos produtores rurais. Além disso, as queimadas têm aumentado as doenças respiratórias na zona urbana e há risco de desabastecimento de água na capital.
Essa seca não é isolada na região amazônica. Enquanto a região Sul enfrenta enchentes e temperaturas históricas, a seca na Amazônia é considerada a segunda mais grave em 13 anos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, a causa desses fenômenos climáticos extremos é uma combinação do El Niño, que provoca aquecimento das águas do Pacífico, com um aquecimento do Atlântico Tropical Norte.
O meteorologista Renato Senna, do Inpa, afirma que essa combinação está agravando a seca na Amazônia e pode atrasar a próxima estação chuvosa em até 45 dias. Ele destaca que a Amazônia Oriental já tem um déficit de precipitação marcado e a situação é mais grave na bacia do Negro e do rio Branco.
Os impactos da seca na região vão além do abastecimento de água e da economia. No estado do Amazonas, 15 municípios já estão em situação de emergência devido à seca severa. Além disso, a falta de água está afetando o acesso à educação, com mais de 355 estudantes impedidos de chegar às escolas devido ao baixo nível dos rios. O número de afetados pode chegar a 20 mil se a situação persistir.
Diante desse cenário, governadores e representantes do governo federal estão buscando soluções para enfrentar a crise. Medidas como o envio de ajuda humanitária, ampliação do combate ao desmatamento e liberação de recursos estão sendo tomadas. No entanto, os moradores da região amazônica ainda enfrentam desafios constantes devido à seca extrema, que afeta não apenas o abastecimento de água, mas também a agricultura, a educação e a economia local.