Identificação rápida de “superbactéria” em pronto-socorro reduz chance de contaminação, revela pesquisa no Hospital das Clínicas

Um estudo realizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (FM-USP) revelou a importância da identificação rápida e isolamento precoce de pacientes contaminados por enterobactérias, conhecidas como “superbactérias”, em áreas de internação de pronto-socorro. A pesquisa, divulgada na revista Clinical Infectious Diseases, demonstrou que essa prática reduz significativamente a chance de transmissão dessas bactérias.

As enterobactérias são um tipo de bactéria que geralmente causam infecções em ambientes de saúde, como hospitais e prontos-socorros. Entre as cepas mais comuns estão a Escherichia coli, responsável por infecções urinárias e colite hemorrágica, e a Klebsiella pneumoniae, que pode levar à pneumonia e à infecção de corrente sanguínea. Essas bactérias, especialmente as chamadas carbapenêmicos (CRE), são consideradas uma ameaça à saúde pública devido à dificuldade de tratamento.

O estudo teve como foco a prevenção da disseminação dessas bactérias do pronto-socorro para outras alas do hospital. Segundo o médico infectologista Matias Chiarastelli Salomão, integrante da Subcomissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do Hospital das Clínicas, a intervenção realizada no pronto-socorro superlotado resultou na redução das bactérias multirresistentes tanto nessa área quanto em todo o hospital.

O trabalho foi dividido em duas fases: uma realizada antes dos primeiros casos de COVID-19 no hospital, em fevereiro de 2020, e outra no período entre setembro e outubro do mesmo ano. Durante a segunda fase, os pacientes internados no pronto-socorro passaram por triagem para identificar a presença de superbactérias nas primeiras 24 horas. Aqueles que testaram positivo foram isolados até receberem alta. Os resultados mostraram uma redução significativa da taxa de contaminação durante a permanência no pronto-socorro.

Os pesquisadores também identificaram que manter os pacientes por mais de dois dias na emergência compromete os esforços de contenção e aumenta o risco de contaminação entre os pacientes. Segundo Salomão, isso ocorre devido à estrutura inadequada das unidades de pronto-socorro, que não são adaptadas para receber pacientes de longa permanência.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 100 pacientes internados em hospitais para cuidados intensivos, cerca de sete em países de alta renda e 15 em países de baixa e média renda adquirem ao menos uma infecção associada à saúde durante a internação. Em média, um a cada dez pacientes afetados por essa bactéria morre por esse motivo.

Diante dos resultados obtidos, os pesquisadores destacam a importância de medidas de prevenção e controle para evitar a disseminação de superbactérias em ambientes hospitalares. A intervenção realizada nesse estudo mostrou-se eficaz e pode servir como referência para outras instituições de saúde.

O estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e foi conduzido no pronto-socorro do Hospital das Clínicas da USP, que possui 800 leitos. A pesquisa ressalta a importância de investimentos em estrutura adequada e protocolos eficazes de rastreio e isolamento de pacientes para prevenir infecções associadas a superbactérias.

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