Cientistas desenvolvem teste capaz de selecionar pacientes com câncer pancreático receptivos à imunoterapia

Descoberta por pesquisadores do renomado A.C.Camargo Cancer Center e seus colaboradores, uma nova esperança surge no tratamento do adenocarcinoma ductal, o tipo mais comum de câncer pancreático. Um teste capaz de selecionar os pacientes mais receptivos ao tratamento imunoterápico contra essa doença foi desenvolvido por essa equipe de cientistas. Além disso, foi descrito um conjunto de marcadores moleculares que indicam a presença de uma estrutura chamada estrutura linfoide terciária (TLS).

Os resultados desse estudo foram publicados na revista Gut. Projetado para analisar tumores de pacientes com adenocarcinoma ductal pancreático, esse exame molecular identificou que 10% a 15% dos pacientes apresentavam a TLS num estágio maduro, ou seja, essas células estavam organizadas espacialmente de forma que podiam se comunicar entre si, permitindo a geração de respostas imunes mais robustas.

Essa descoberta é significativa porque, até então, estudos clínicos de imunoterapia para o adenocarcinoma ductal pancreático não haviam mostrado benefícios conclusivos. No entanto, com a identificação da presença da TLS, os pesquisadores acreditam que os pacientes que possuem essa estrutura têm uma maior chance de responder positivamente a esse tipo de tratamento.

A TLS é uma estrutura linfoide semelhante a um linfonodo, que se forma em volta de tumores. Ela é composta por células de defesa, como linfócitos B e T, que desempenham um papel fundamental no combate a infecções e tumores. Em outros tipos de câncer, como melanoma, sarcoma de tecido mole, carcinoma de células renais e carcinoma urotelial, a presença de TLS já indicou respostas favoráveis ao tratamento com imunoterapia.

No entanto, a identificação da TLS não é uma tarefa simples, pois é necessário analisar lâminas de alta qualidade obtidas em cirurgias para poder identificar essa estrutura no microscópio. Pensando nisso, os pesquisadores também descobriram um conjunto de genes cuja expressão pode indicar a presença das TLS. Isso poderia ser utilizado no futuro para um exame de biópsia, tornando o diagnóstico mais acessível e menos invasivo.

Além disso, os cientistas também pretendem entender melhor como ocorre a maturação da TLS. Descobriu-se que os fibroblastos, células presentes nos tumores de pâncreas, têm um papel importante nesse processo. Eles produzem uma proteína chamada TGF-β, que age nos linfócitos T reativos ao tumor, promovendo a produção de outra proteína, a CXCL13, que atrai os linfócitos B e forma a estrutura da TLS.

Com um maior entendimento desse processo, os pesquisadores acreditam que poderão buscar um tratamento que estimule a formação das TLS maduras nos pacientes que não desenvolvem naturalmente essa estrutura. Isso poderia aumentar as chances de cura para o adenocarcinoma ductal pancreático, que atualmente possui uma taxa de sobrevida de apenas 10% depois de cinco anos do diagnóstico.

Os pesquisadores envolvidos nesse estudo são do A.C.Camargo Cancer Center, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital de Amor. A pesquisa contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Essa descoberta é um avanço significativo no tratamento do adenocarcinoma ductal pancreático e traz esperança para os pacientes que lutam contra essa doença. A possibilidade de identificar os pacientes mais receptivos ao tratamento imunoterápico e de desenvolver novas estratégias terapêuticas baseadas na TLS é um passo importante na busca por uma cura para esse câncer tão agressivo.

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