De acordo com o relatório, a população de 0 a 6 anos na Maré representa 12,4% dos seus moradores, o equivalente a quase 15 mil crianças. A primeira infância é uma fase crucial para o desenvolvimento das crianças, e durante a pandemia foram realizados 2.144 questionários com as famílias, além de entrevistas com profissionais de redes de proteção e apoio à primeira infância.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelas famílias durante a pandemia foi a questão da alimentação. Segundo o relatório, 54,1% das famílias tiveram problemas com a alimentação, e em 11,8% dos domicílios algum familiar deixou de comer para garantir que não faltasse comida para as crianças. A ONG Redes da Maré desempenhou um papel importante no auxílio às famílias durante esse período, atendendo mais de 18 mil delas.
Outro aspecto preocupante é a violência. O relatório revela que 38,2% dos cuidadores afirmaram que as crianças já presenciaram algum tipo de violência, e que as operações policiais ocorreram próximo a escolas e creches em 62% dos casos. Isso teve consequências como perda de aulas, redução do desempenho escolar e prejuízos ao brincar, afetando diretamente o desenvolvimento das crianças.
No campo da educação, é necessário ampliar o acesso aos espaços de desenvolvimento infantil e creches, uma vez que as políticas públicas voltadas para a primeira infância são insuficientes para atender à demanda na Maré. Além disso, é fundamental levar em conta o caráter prioritário das crianças, garantindo que elas tenham acesso aos direitos básicos, como saneamento básico, lazer, cultura e transporte.
O relatório também destaca a importância de considerar as formas de cuidado adotadas nas favelas e periferias, onde predominam as mulheres como principais cuidadoras das crianças. Além disso, é necessário ampliar o atendimento na área da saúde, com mais unidades básicas e especialidades médicas, além de investir em programas de formação nas clínicas da família da Maré.
Diante desse panorama, é fundamental que o Estado atue de forma responsável e menos moralista, garantindo o acesso aos direitos das crianças na Maré e promovendo políticas públicas que realmente atendam às suas necessidades. A ONG Redes da Maré desempenhou um papel importante no diagnóstico e no auxílio às famílias, mas é necessário continuar trabalhando para melhorar a realidade dessas crianças e garantir um desenvolvimento saudável e seguro para elas.