Repórter São Paulo – SP – Brasil

Clínica clandestina de abortos em Campo Grande é alvo de investigação policial e resulta no maior processo por aborto do Brasil

Durante 20 anos, a Clínica de Planejamento Familiar, no centro de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, foi palco de um dos principais serviços oferecidos pela médica Neide Mota Machado: abortos clandestinos. Essa prática, que é comum no Brasil, foi revelada por uma reportagem da TV Globo, desencadeando uma operação policial que resultou na apreensão de prontuários médicos de 10 mil pacientes atendidas ao longo de quase duas décadas.

Esses prontuários detalhados expuseram a realidade desse serviço clandestino e levaram mais de mil mulheres à Justiça, resultando no maior processo por aborto do país. Além das consequências penais, muitas implicações sociais surgiram para as mulheres envolvidas, já que seus nomes foram expostos durante o processo. Esse caso também despertou a atenção de políticos, principalmente aqueles que defendem posições antiaborto, o que acirrou ainda mais o debate sobre a interrupção da gravidez no Congresso Nacional.

O Caso das 10 Mil, podcast da Folha, investiga em seis episódios a derrocada da Clínica de Planejamento Familiar e como ela influenciou a discussão política sobre aborto no Brasil. Os primeiros quatro episódios já estão disponíveis nas principais plataformas de podcast, sendo lançados todas as quartas-feiras. O primeiro episódio apresenta o início desse caso e como ele atraiu rapidamente a atenção de parlamentares em Brasília. O segundo episódio narra a história das mulheres envolvidas e todas as consequências pessoais, familiares e jurídicas que enfrentaram. Já o terceiro episódio revela como a movimentação política influenciou a trajetória da médica Neide Mota Machado e da clínica. Por fim, o quarto episódio conta a história da médica e o desfecho desse caso para ela.

Os últimos dois episódios serão lançados nas próximas semanas, abordando o júri e o hospital envolvido nesse caso. O Caso das 10 Mil traz à tona uma realidade que persiste no Brasil, mesmo com a proibição do aborto. A pesquisa mostra que uma em cada sete mulheres com até 40 anos já realizou pelo menos um aborto, e a maioria acessa esse serviço em clínicas clandestinas. Diante desse cenário, é fundamental que casos como esse sejam discutidos e debatidos, visando à conscientização e busca por soluções adequadas para a saúde das mulheres.

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