Desafio do jornalismo: como reportar tragédias sem incentivar a violência e garantir transparência

No primeiro semestre deste ano, uma série de ataques em escolas no Brasil desencadeou um debate fundamental sobre o papel dos jornalistas ao reportar tragédias desse tipo. Vários veículos de mídia adotaram protocolos para evitar a exposição desnecessária das vítimas e a eventual glamorização dos autores dos ataques, como deixar de divulgar seus nomes e redes sociais.

Essas decisões foram amplamente divulgadas por algumas empresas jornalísticas, que cumpriram sua missão não apenas de informar o público, mas também de explicar os critérios por trás dessas escolhas. Embora possam dar a impressão de que esses veículos são menos completos em relação à concorrência, é crucial reconhecer a importância dessas medidas, pois pesquisas demonstram que a publicação exaustiva de informações relacionadas à violência pode ter um efeito contágio, incentivando potencialmente outros ataques.

No entanto, uma atuação mais consciente da imprensa pode ir além. Uma proposta é explicar as decisões editoriais sobre a cobertura de ataques toda vez que uma reportagem sobre o tema for publicada, não apenas nos primeiros dias de cobertura jornalística. Essas iniciativas tornam o jornalismo mais transparente e conectado à audiência, e foram amplamente discutidas durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, organizado pela Jeduca.

A influência da imprensa na forma como enxergamos o mundo é significativa, portanto, é essencial que haja reflexão e transparência no processo de construção da notícia. Isso se relaciona ao papel pedagógico do jornalismo, que deve constantemente examinar suas práticas: quais histórias estão sendo contadas, como contá-las de forma clara, quais imagens são publicadas e por quê, quais vozes estão sendo privilegiadas ou negligenciadas, entre outras questões. Esses cuidados devem estar presentes não apenas na cobertura de ataques, mas também no dia a dia das redações, promovendo um diálogo assertivo entre a imprensa e o público.

Mais importante do que a velocidade na divulgação da notícia, está a credibilidade e responsabilidade do jornalismo. Ele deve se diferenciar de conteúdos despejados nas redes sociais por indivíduos que ainda não reconheceram as consequências negativas da disseminação de imagens e dados sensíveis sobre episódios de violência. Essa responsabilidade também se aplica a acidentes, principalmente quando envolvem pessoas famosas. Com um simples clique, temos acesso a uma infinidade de informações sobre diversos acontecimentos. Portanto, entender que nem todas essas fontes são igualmente precisas ou tratam os fatos com a mesma responsabilidade é uma habilidade essencial para toda a sociedade.

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