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Taxa de suicídio entre indígenas no Brasil é duas a três vezes maior do que na população geral, revela pesquisa

No território dos indígenas xakriabás, localizado no norte de Minas Gerais, os casos de suicídio na juventude são uma triste realidade. Para esses indígenas, quando um jovem comete suicídio, é como se fosse uma morte coletiva, pois perde-se não apenas aquela vida, mas também todo o conhecimento que poderia ser transmitido para a próxima geração. Drika Xakriabá, de 27 anos, convive com essa triste realidade desde a infância e relata que, na adolescência, o suicídio era visto como uma morte normal.

Recentemente, uma pesquisa da Fiocruz, publicada na revista científica The Lancet, revelou que a incidência de suicídio entre os indígenas é de duas a três vezes maior do que na população brasileira em geral. As crianças, adolescentes e jovens de 10 a 24 anos apresentam as maiores taxas de lesões autoprovocadas. Somente em 2022, foram registradas 177 mortes por suicídio entre indígenas, um número 19% maior do que o ano anterior. Até junho de 2023, já foram contabilizados 60 casos.

Embora a maior incidência esteja nos estados do Amazonas e Mato Grosso do Sul, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) tem se preocupado cada vez mais com a questão também em estados como Minas Gerais e Paraná. Os xakriabás, por exemplo, entraram nessa triste estatística após uma série de suicídios consecutivos no último ano, sendo três deles de jovens que viviam na mesma localidade.

Drika Xakriabá, que nasceu na aldeia Imbaúba, teve a oportunidade de estudar psicologia na Ufcat (Universidade Federal do Catalão), em Goiás, e escolheu o suicídio entre os indígenas xakriabás como tema de seu trabalho de conclusão de curso. Ela analisou as tentativas de suicídio na aldeia e concluiu que a falta de acesso à terra e o racismo são fatores que contribuem para o adoecimento mental das comunidades indígenas.

Os xakriabás acreditam que a morte não é o fim da vida e preferem não falar sobre suicídios para não atrai-los. Segundo Drika, para eles, o território é vida, é a prática de sua cultura e a manutenção de sua identidade como povo. No entanto, a falta de acesso ao Rio São Francisco, que é sagrado para os xakriabás, e a escassez de água têm sido um desafio para a comunidade.

A prevenção ao suicídio entre os indígenas é um desafio que requer políticas específicas. O psiquiatra Rodrigo Martins Leite destaca a importância de considerar as particularidades de cada grupo e afirma que falar sobre suicídio não é falar apenas sobre depressão, mas também sobre problemas sociais que afetam essas populações.

A Secretaria da Saúde Indígena (Sesai) ressalta a necessidade de intensificar a prevenção ao suicídio nas regiões de maior incidência e aumentar o número de profissionais que prestam assistência às populações indígenas. No entanto, a pasta contesta os números apresentados pela pesquisa da Lancet, argumentando que a estimativa por 100 mil habitantes não é adequada para uma população tão pequena como a indígena.

Enquanto aguardam a votação do marco temporal, diversas etnias indígenas enfrentam desafios diários, inclusive na prevenção ao suicídio. Os jovens do povo guarani-kaiowá, por exemplo, têm perdido a conexão com a natureza e têm sofrido as consequências do preconceito e da falta de apoio psicológico em suas aldeias.

É necessário que sejam implementadas políticas sustentáveis de prevenção ao suicídio que levem em consideração as especificidades das populações indígenas, suas cosmovisões e seus territórios. Além disso, é fundamental fortalecer os vínculos culturais e garantir o acesso a direitos básicos, como saúde e educação. O apoio psicológico e a assistência social são essenciais para que essas comunidades possam enfrentar os desafios e valorizar a vida.

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