Emendas de bancada estadual ao Orçamento federal se transformam em emendas individuais, revela estudo da Câmara dos Deputados

Um estudo realizado pelos consultores de Orçamento da Câmara dos Deputados revelou que as emendas de bancada estadual ao Orçamento federal têm se transformado em emendas individuais na prática. Essa constatação foi discutida durante uma audiência pública da Comissão Mista de Orçamento (CMO) na última quinta-feira (14), que abordou as transferências federais para estados e municípios.

De acordo com o estudo, apenas 10% das transferências realizadas por meio de emendas de bancada são direcionadas para obras e serviços estruturantes, que deveriam ser o foco dessas emendas coletivas. Algumas bancadas, como as dos estados de Minas Gerais, Roraima, São Paulo, Tocantins e do Distrito Federal, destinaram a totalidade de suas emendas para custeio e outros tipos de investimento.

O consultor Eugênio Greggianin, da Câmara dos Deputados, destacou que outra evidência da pulverização dos recursos das emendas de bancada é o fato de que em 2022 elas atenderam a 2.607 municípios. Isso contrapõe o objetivo inicial das emendas individuais, que era identificar problemas locais, enquanto as emendas decididas pelas bancadas estaduais deveriam ser destinadas a obras de maior impacto.

Greggianin também criticou as transferências especiais, que são repasses diretos para as prefeituras e têm crescido no Orçamento. Segundo ele, esse tipo de transferência é problemático porque não se sabe como o dinheiro é utilizado pelas prefeituras. Ele defende que essas transferências sejam aplicadas apenas em ações emergenciais e em valores não tão elevados, deixando as obras plurianuais de fora.

Um dado relevante é que desde 2021, as transferências para estados e municípios por meio de emendas parlamentares superam o total feito pelo Executivo. Para 2023, estão previstos R$ 32,1 bilhões em recursos de emendas parlamentares, contra R$ 30,8 bilhões por meio de convênios com o governo.

O estudo encomendado pela deputada Adriana Ventura (Novo-SP) identificou distorções causadas pela falta de critérios objetivos na distribuição dos recursos das emendas. Segundo Greggianin, a maioria dos recursos é direcionada para pequenos municípios do Norte e do Nordeste, que recebem mais do que a média per capita de R$ 107,66 em 2022.

Um exemplo citado foi a cidade de Normandia, em Roraima, que possui 11.772 habitantes e recebeu R$ 3.323 por habitante, seis vezes mais do que o valor recebido pela cidade por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que distribui recursos dos impostos federais.

Por outro lado, o estudo mostrou que 493 municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e menos de 20 mil habitantes receberam menos recursos de emendas do que a média da faixa, que foi de R$ 227.

O consultor de Orçamento do Senado, Fernando Moutinho, ressaltou que os recursos transferidos por meio das emendas não estão seguindo critérios socioeconômicos definidos pela legislação. Ele afirma que a maioria das transferências voluntárias não respeita esses critérios, com exceção parcial das transferências para o Sistema Único de Saúde (SUS).

O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) mencionou que muitos defensores do atual sistema de emendas parlamentares afirmam que os congressistas têm mais capacidade de identificar problemas específicos e locais. No entanto, as distorções apontadas pelo estudo mostram as limitações do sistema, já que municípios com menor IDH são politicamente menores e tendem a receber menos recursos.

O auditor de transferências do Tribunal de Contas da União (TCU), Waldemir Paschoiotto, ressaltou que mesmo na área da Saúde é difícil avaliar se a execução dos recursos atende às prioridades das políticas públicas. Segundo ele, não há uma integração de dados que permita o Ministério da Saúde fazer o monitoramento e avaliação adequados.

Gestores dos ministérios presentes na audiência afirmaram que já adotam critérios específicos de distribuição das transferências ou estão implantando sistemas novos para garantir maior transparência e efetividade na utilização dos recursos. Portanto, é necessário uma revisão do atual sistema de emendas parlamentares, levando em consideração critérios claros, objetivos e socioeconômicos para garantir uma distribuição mais equitativa e eficiente dos recursos públicos.

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