A importância da acessibilidade nos meios de comunicação na proteção das pessoas com deficiência contra as desinformações é discutida durante seminário do STF

Pessoas com deficiência visual, auditiva, tátil ou com algum tipo de neurodiversidade estão mais vulneráveis às desinformações. Essa é a conclusão do segundo dia do seminário “Combate à Desinformação e Defesa da Democracia”, promovido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que ocorreu nesta sexta-feira (15). O professor doutor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Marco Bonito, ressaltou a importância da acessibilidade nos meios de comunicação para que pessoas com deficiência possam se proteger da desinformação.

Durante o painel sobre educação midiática, comunicação inclusiva e divulgação científica no combate à desinformação, Bonito questionou como uma pessoa cega consegue verificar informações em sites de notícias ou como uma pessoa surda, que é alfabetizada apenas em Libras, pode verificar informações em uma agência de checagem. Ele destacou que, mesmo havendo algum grau de acessibilidade, a maioria dos meios de comunicação não está totalmente acessível.

Apesar de existir uma legislação vigente no país sobre o tema, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, essa legislação não é cumprida integralmente pelos meios de comunicação, conforme destacou o professor. Ele afirmou que os produtores de conteúdo precisam encarar essa questão com mais seriedade, já que o descumprimento da legislação configura um crime contra o direito humano à comunicação.

Bonito ressaltou também que a audiodescrição de conteúdos para pessoas cegas deveria estar presente em todos os programas de TV e plataformas, enquanto a interpretação por Libras é mais comum, porém a audiodescrição ainda é praticamente inexistente. Ele atribuiu essa falta de acessibilidade à falta de vontade política para exigir o cumprimento da lei, além do lobby das grandes empresas de comunicação.

Outro tema abordado durante o seminário foi a importância da educação midiática. A professora de Comunicação Social Janine Bargas mencionou a experiência de um jogo realizado por estudantes de jornalismo com alunos de uma escola de ensino médio em Rondon do Pará. Por meio de cartas, foram abordadas informações verdadeiras e falsas que circulavam na cidade, estimulando os alunos a refletirem sobre o que faz uma notícia ser real ou mentirosa.

Janine ressaltou que apesar de os jovens desconfiarem das notícias falsas e perfis oportunistas, há pouca qualificação em educação midiática. Ela destacou a falta de leitura de notícias, de checagem de fontes e de problematização da origem das informações.

O seminário também abordou o processo de desmoralização das universidades federais. A professora Thaiane Oliveira apresentou um levantamento sobre a forma como o termo “universidades públicas” é abordado nas redes sociais. Ela destacou a construção discursiva de precariedade das universidades, sempre atreladas à solução prática da privatização.

Durante a abertura do painel, o ministro do STF Gilmar Mendes ressaltou que a divulgação de notícias falsas é um dos males contemporâneos da sociedade moderna. Ele destacou o simbolismo do seminário ser realizado na sede do STF, que sofreu ataques durante os atos de 8 de janeiro. Mendes ressaltou a força e resiliência dos três poderes da República na condução das investigações e na reconstrução de seus edifícios.

O ministro Edson Fachin, ao abrir o último painel do seminário, também chamou a atenção para os acontecimentos de 8 de janeiro em Brasília. Ele alertou para a relação desses fatos com a disseminação viral de notícias falsas e o ataque à democracia.

O seminário promovido pelo STF busca conscientizar sobre a importância do combate à desinformação e da defesa da democracia. A acessibilidade nos meios de comunicação e a educação midiática são temas fundamentais para garantir que todas as pessoas, independentemente de suas deficiências, tenham acesso à informação e estejam preparadas para identificar e combater as notícias falsas.

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