Para marcar esse momento especial, aproximadamente cem pessoas estiveram presentes no evento de reinauguração. Durante a cerimônia, trovadores declamaram seus versos em um palco improvisado enquanto a plateia acompanhava atentamente. No entanto, todos tiveram que se abrigar sob uma redoma para se proteger da chuva incessante que caía. Apesar disso, a multidão foi iluminada pelas novas e amareladas luzes dos lampiões.
O contraste entre essa festividade e a triste realidade ao redor do local não passou despercebido por Dora Maia, aposentada de 68 anos que vive na região há mais de meio século. Ela lamenta: “As lâmpadas são bonitas, memória, mas vão servir somente para iluminar a pobreza ao redor.”
Inicialmente, estava prevista uma caminhada até a rua Roberto Simonsen para prestigiar a iluminação, porém, devido às condições meteorológicas, essa programação teve que ser cancelada.
Os primeiros lampiões a gás da cidade de São Paulo foram instalados em 1873 pela San Paulo Gas Company, que atualmente é conhecida como Comgás. Naquela época, cerca de 700 desses equipamentos foram colocados nas calçadas da cidade, e eram acesos e apagados manualmente.
Essa novidade, naquela época, trouxe vida para a cidade. As ruas, que antes eram desertas durante a noite por conta da escuridão, passaram a ter movimento e atividades.
Ao longo das décadas seguintes, os lampiões foram perdendo relevância e, em 8 de dezembro de 1936, a última luminária operacional em uma rua foi desligada. No entanto, no Pateo do Collegio, esses lampiões resistiram ao tempo.
Alvaro Camilo, subprefeito da Sé, destaca a importância dos lampiões a gás como parte da história de São Paulo e acredita que eles serão mais um atrativo para a população.
Desde 2001, o sistema de ligação dos lampiões é automatizado e conta com dispositivos acionados por fotocélulas. Essas fotocélulas identificam a queda de luminosidade e liberam automaticamente o gás natural para acender o queimador.
Além disso, o Pateo do Collegio é um local histórico que está intimamente ligado à fundação de São Paulo. O local foi escolhido para a construção do complexo dos jesuítas por ser alto e pela sua localização estratégica entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí.
Durante a cerimônia de comemoração da abertura do colégio, em 1554, foi celebrada a primeira missa que marcou oficialmente a fundação da cidade.
No entanto, dois séculos depois, os jesuítas foram expulsos do Brasil e o local passou a ser a sede do governo local, que funcionou no local até 1930. Hoje, além do Pateo do Collegio, existe a paróquia de São José de Anchieta e um museu com coleções de arte sacra e pinturas dos séculos 17 e 18.
O complexo é tombado pelo Condephaat (conselho estadual de defesa do patrimônio histórico) e abriga relíquias como o manto do padre José de Anchieta, canonizado em 2014 pelos católicos, e o fêmur de Anchieta.
A revitalização dos lampiões a gás no Pateo do Collegio é um importante passo para resgatar a história de São Paulo e atrair a população para conhecer um dos locais mais significativos da cidade.