General do Exército admite cancelamento de operação para desmobilizar acampamento de manifestantes em Brasília em depoimento à CPMI

No depoimento prestado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, o ex-comandante do Comando Militar do Planalto (CMP), general Gustavo Henrique Dutra, revelou que o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, ordenou o cancelamento de uma operação da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) para desmobilizar o acampamento de manifestantes golpistas em Brasília. A informação veio à tona durante o questionamento da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI.

De acordo com a parlamentar, a PMDF foi acionada três vezes no ano passado para remover o acampamento instalado em frente ao Quartel General do Exército. As ações estavam programadas para os dias 7, 13 e 29 de dezembro, mas foram suspensas por ordem do ex-comandante do CMP.

Durante seu depoimento, o general Dutra negou ter sido pressionado para manter o acampamento ou ter obstruído a desmobilização. No entanto, admitiu que recebeu uma ligação do general Freire Gomes no dia 29 de dezembro, solicitando que apenas militares do Exército acompanhassem servidores do governo do Distrito Federal na operação. A ação resultou apenas na remoção de barracas desocupadas.

A senadora Eliziane Gama confrontou o ex-comandante com informações de inteligência que apontavam para a prática de crimes dentro do acampamento, como a fabricação de uma bomba e a presença de militares da reserva armados. Ela questionou se o general Dutra recebeu alertas do Serviço de Inteligência do Exército (SIE) sobre tais atividades.

O general negou ter recebido qualquer comunicação do SIE e alegou que não cabia ao Exército julgar se a concentração em frente ao Quartel General era irregular. Segundo ele, a atuação do Exército se limita aos casos de crime militar, enquanto os demais ilícitos são responsabilidade dos órgãos de segurança pública em coordenação com as unidades militares adjacentes aos quartéis.

O acampamento na Praça dos Cristais durou 69 dias e chegou a reunir 100 mil pessoas em 15 de novembro de 2022. No dia 6 de janeiro, restavam apenas 200 manifestantes, mas esse número subiu para 5 mil dois dias depois. A operação de desmobilização efetiva só foi realizada após os ataques à Praça dos Três Poderes e a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirada do acampamento e prisão dos golpistas.

O general Dutra destacou que a operação foi adiada para evitar riscos à integridade física das pessoas, solicitando o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para realizar a ação pela manhã. Ele afirmou que o CMP contribuiu para que a operação fosse realizada com o planejamento adequado, a fim de evitar danos colaterais e derramamento de sangue.

O depoimento do general Dutra trouxe novas informações sobre a atuação do Exército em relação ao acampamento dos manifestantes golpistas em Brasília. Resta agora aguardar os desdobramentos da CPMI do 8 de Janeiro para esclarecer completamente os fatos e verificar possíveis responsabilidades.

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