Professora da Universidade de Columbia destaca necessidade de regulamentação para que big techs remunerem a imprensa tradicional.

Na última terça-feira (12), a professora Anya Schiffrin, diretora de Tecnologia, Meios e Comunicação da Escola Internacional de Relações Públicas da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), defendeu a ideia de que as grandes empresas de tecnologia, como Google e Facebook, devem pagar às empresas de mídia tradicionais pelo uso de seus conteúdos. A especialista foi uma das palestrantes no evento “Mídias Digitais e Democracia”, realizado no Senado.

Durante sua apresentação, Anya destacou que o Brasil já está adiantado nesse debate, mencionando o Marco Civil da Internet como exemplo de regulamentação das grandes mídias. Segundo ela, a crise de desinformação se intensificou a partir de eventos como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o Brexit no Reino Unido em 2016. Com a pandemia de covid-19, a ameaça se tornou ainda mais presente, e a onda de desinformação não será facilmente afastada. Anya também alertou para os desafios que a política enfrentará em 2024, ano de eleição presidencial nos EUA. Ela mencionou a possibilidade de disseminação de mensagens falsas altamente personalizadas, utilizando a inteligência artificial generativa e a microssegmentação.

A professora ressaltou a importância do jornalismo na garantia de informações confiáveis e de qualidade no ambiente online, destacando que esse tipo de conteúdo é fundamental para o fortalecimento da democracia. No entanto, ela ressaltou que a produção desses conteúdos é cara para a sociedade e, por isso, as grandes empresas de tecnologia, que se beneficiam desse conteúdo, também devem contribuir financeiramente.

Nos próximos semanas, Anya irá publicar um trabalho em que apresentará uma metodologia para a remuneração justa do trabalho dos jornalistas. Ela demonstrará, por meio de cálculos, como as matérias jornalísticas são responsáveis pelo tráfego de dados e pelo engajamento de usuários das grandes plataformas. A pesquisadora também citou um experimento em que foi testada uma versão do Google sem notícias, o que teve impacto no uso da plataforma.

Ilana Trombka, diretora-geral da Casa, destacou a urgência do debate sobre a regulação das mídias, mas ressaltou que esse é um tema cercado de diferentes interesses. Ela citou a invasão ao Senado em janeiro como exemplo da influência das grandes empresas de tecnologia em acontecimentos políticos.

Já Érica Ceolin, diretora da Secretaria de Comunicação Social do Senado, abordou o uso da inteligência artificial generativa pelas empresas de tecnologia. Para ela, é importante que haja um acordo entre as gigantes de tecnologia e as empresas de mídia tradicionais, uma vez que o conteúdo utilizado por essas empresas é, em grande parte, produzido pelos jornalistas. Anya concordou com essa perspectiva, ressaltando a importância de se saber a origem das informações.

O debate sobre a remuneração das empresas de mídia tradicionais pelas big techs ainda está em andamento, mas é evidente a necessidade de se estabelecer regras claras nesse sentido. As grandes empresas de tecnologia têm se beneficiado do conteúdo jornalístico produzido pelas empresas tradicionais, e é justo que contribuam financeiramente por esse uso. A iniciativa do Brasil de regulamentar o uso das grandes mídias é um exemplo a ser seguido, e é importante que outros países também se envolvam nesse debate para garantir a sustentabilidade do jornalismo e o acesso a informações confiáveis e de qualidade.

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