De acordo com um levantamento do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social, apenas 1 em cada 5 filhos de beneficiários do Bolsa Família continuava recebendo o programa 14 anos depois. Dener e Vitória fazem parte do grupo de “filhos do Bolsa Família” que conseguiram deixar o programa na vida adulta. A experiência dessas famílias sugere que a superação da pobreza depende da combinação de transferência de renda e políticas públicas mais amplas.
A história da família de Dener é marcada por um passado de avós analfabetos, pais beneficiários do Bolsa Família e filhos que alcançaram a universidade. Seus avós tinham pouca escolaridade, e seus pais tiveram acesso limitado ao ensino formal. A família enfrentou dificuldades financeiras, mas o Bolsa Família trouxe uma certa estabilidade, garantindo o mínimo necessário para sobreviver.
Dener relembra momentos em que o dinheiro do benefício era utilizado para pagar parte da mensalidade de uma escola privada em que estudava, mas que não havia recursos para o lanche. Ele sentia vergonha dessa situação e decidiu ir para uma escola pública, onde teria acesso à merenda escolar.
No entanto, a grande mudança na vida da família ocorreu quando seu pai se tornou professor do Pronatec, programa de estímulo ao ensino técnico. Dener teve a oportunidade de estudar em uma escola técnica estadual e posteriormente no Instituto Federal do Piauí, onde teve acesso a professores qualificados e bolsas de estudo. A expansão das universidades públicas também contribuiu para que ele se tornasse o primeiro da família a ingressar na faculdade, estudando Ciência da Computação na Universidade Federal do Ceará.
Hoje, Dener é um engenheiro de software bem-sucedido, e sua irmã Vitória está seguindo seus passos estudando Medicina com a ajuda do Fies. A trajetória dessa família reforça a necessidade de investimentos em educação e infraestrutura para que as pessoas tenham oportunidades reais de superar a pobreza.
Os estudos do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social indicam que a maioria dos beneficiários do Bolsa Família encontram “a porta de saída” do programa. Além disso, mostram que 45% desses jovens tiveram acesso ao mercado de trabalho formal entre 2015 e 2019. A taxa de saída do programa também foi influenciada pelo nível de escolaridade dos pais e pela cor da pele, sendo mais frequente entre aqueles com ensino médio completo e entre brancos.
Dener enfatiza que o Bolsa Família não é suficiente por si só. A transformação social e a saída da pobreza exigem investimentos em várias áreas, como educação e infraestrutura. O programa de transferência de renda é apenas uma das ferramentas para a promoção da igualdade e do desenvolvimento social.
A história de Dener e sua família mostra que é possível romper o ciclo de pobreza com o apoio adequado e as oportunidades oferecidas pelas políticas públicas. A combinação de transferência de renda, acesso à educação e investimentos em infraestrutura são fundamentais para garantir uma vida digna e uma saída permanente da pobreza.