Família quebra ciclo de pobreza com benefícios do Bolsa Família, mas destaca importância de políticas públicas abrangentes

Na família de Dener Silva Miranda, de 31 anos, a quebra do ciclo de pobreza estrutural não foi algo fácil. Ao olhar para trás e refletir sobre sua história, ele reconhece o tempo e os esforços necessários para essa mudança. Dener é engenheiro de software e trabalha remotamente para uma empresa em Los Angeles, nos Estados Unidos. Sua irmã, Vitória, de 23 anos, atualmente estuda Medicina em São Paulo com uma bolsa do Fies, programa de financiamento estudantil do governo federal. O que torna a história deles diferente é o fato de terem crescido em uma família beneficiada pelo Bolsa Família, programa de transferência de renda que completará 20 anos em outubro de 2023.

De acordo com um levantamento do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social, apenas 1 em cada 5 filhos de beneficiários do Bolsa Família continuava recebendo o programa 14 anos depois. Dener e Vitória fazem parte do grupo de “filhos do Bolsa Família” que conseguiram deixar o programa na vida adulta. A experiência dessas famílias sugere que a superação da pobreza depende da combinação de transferência de renda e políticas públicas mais amplas.

A história da família de Dener é marcada por um passado de avós analfabetos, pais beneficiários do Bolsa Família e filhos que alcançaram a universidade. Seus avós tinham pouca escolaridade, e seus pais tiveram acesso limitado ao ensino formal. A família enfrentou dificuldades financeiras, mas o Bolsa Família trouxe uma certa estabilidade, garantindo o mínimo necessário para sobreviver.

Dener relembra momentos em que o dinheiro do benefício era utilizado para pagar parte da mensalidade de uma escola privada em que estudava, mas que não havia recursos para o lanche. Ele sentia vergonha dessa situação e decidiu ir para uma escola pública, onde teria acesso à merenda escolar.

No entanto, a grande mudança na vida da família ocorreu quando seu pai se tornou professor do Pronatec, programa de estímulo ao ensino técnico. Dener teve a oportunidade de estudar em uma escola técnica estadual e posteriormente no Instituto Federal do Piauí, onde teve acesso a professores qualificados e bolsas de estudo. A expansão das universidades públicas também contribuiu para que ele se tornasse o primeiro da família a ingressar na faculdade, estudando Ciência da Computação na Universidade Federal do Ceará.

Hoje, Dener é um engenheiro de software bem-sucedido, e sua irmã Vitória está seguindo seus passos estudando Medicina com a ajuda do Fies. A trajetória dessa família reforça a necessidade de investimentos em educação e infraestrutura para que as pessoas tenham oportunidades reais de superar a pobreza.

Os estudos do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social indicam que a maioria dos beneficiários do Bolsa Família encontram “a porta de saída” do programa. Além disso, mostram que 45% desses jovens tiveram acesso ao mercado de trabalho formal entre 2015 e 2019. A taxa de saída do programa também foi influenciada pelo nível de escolaridade dos pais e pela cor da pele, sendo mais frequente entre aqueles com ensino médio completo e entre brancos.

Dener enfatiza que o Bolsa Família não é suficiente por si só. A transformação social e a saída da pobreza exigem investimentos em várias áreas, como educação e infraestrutura. O programa de transferência de renda é apenas uma das ferramentas para a promoção da igualdade e do desenvolvimento social.

A história de Dener e sua família mostra que é possível romper o ciclo de pobreza com o apoio adequado e as oportunidades oferecidas pelas políticas públicas. A combinação de transferência de renda, acesso à educação e investimentos em infraestrutura são fundamentais para garantir uma vida digna e uma saída permanente da pobreza.

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