Temporais no Rio Grande do Sul deixam 41 mortos e famílias enfrentam dificuldades para liberação dos corpos

No Departamento Médico-Legal de Porto Alegre, um clima de silêncio e tristeza pairava no ar. Na tarde desta quinta-feira, foram levados para lá os corpos de 22 das 39 vítimas dos temporais que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias. Já foram confirmados um total de 41 óbitos.

No local, havia uma intensa movimentação de veículos do Instituto Geral de Perícias (IGP) e de funerárias. Os familiares das vítimas das enxurradas entravam e saíam do prédio, buscando a liberação dos corpos. Além da necropsia, a liberação para os velórios depende da normalização mínima das cidades afetadas, que chegaram a ter mais de 80% da área urbana submersa.

Os familiares, abalados emocionalmente e incrédulos com o que aconteceu, preferiram não falar com a imprensa, apenas conversaram por telefone com parentes que ainda estavam no interior, para explicar as orientações sobre os velórios. Uma mulher descreveu a situação como indescritível, enquanto outra, com o queixo trêmulo e olhos vermelhos, pediu para não falar, apenas gesticulando com as mãos.

A maioria dos parentes era de vítimas encontradas nas cidades de Muçum e Roca Sales, que foram devastadas pela cheia do rio Taquari. Eles viajaram para a capital gaúcha como parte de uma força-tarefa montada emergencialmente pelo IGP. Segundo a Defesa Civil do estado, essas duas cidades registraram 23 dos 39 óbitos confirmados até o momento.

De acordo com a diretora-geral do IGP, Marguet Mittmann, a equipe foi montada para a identificação das vítimas, seguindo um protocolo internacional para eventos de grande magnitude. Dos 22 corpos levados para Porto Alegre, 18 foram identificados por impressão digital. Para os demais casos, será utilizada a odontologia forense, e se isso não for suficiente, será realizado o exame de DNA.

A decisão de centralizar esses casos na capital gaúcha foi motivada pela estrutura interdisciplinar oferecida, que inclui uma equipe maior de peritos, psiquiatras e outros profissionais com treinamento específico para desastres. Além disso, uma sala de cuidado psicossocial foi disponibilizada às famílias para auxiliá-las na liberação dos corpos e oferecer apoio a quem fez a viagem entre Porto Alegre e as duas pequenas cidades afetadas.

Os corpos começaram a chegar em Porto Alegre no final da tarde de quarta-feira. Os cartórios das regiões também foram orientados a priorizar o atendimento às demandas causadas pelos impactos da enchente. É uma prioridade reduzir os entraves burocráticos para os familiares das vítimas, já que muitas delas perderam tudo e podem estar sem documentação.

O governador Eduardo Leite (PSDB) visitou a cidade de Muçum na tarde desta quinta-feira para articular ações de resposta ao desastre com o prefeito Mateus Trojan (MDB). No entanto, a comunicação com a região está prejudicada devido à queda de antenas de sinal de internet. O governo federal, por meio do Ministério das Comunicações, disponibilizou 13 antenas digitais que foram levadas pela Força Aérea Brasileira para o Rio Grande do Sul.

As consequências dos temporais foram sentidas em 80 municípios gaúchos, deixando 2.384 pessoas desabrigadas e 3.953 desalojadas. Além disso, oito pessoas ficaram feridas e nove estão desaparecidas. O governo estima que 62,7 mil pessoas foram afetadas pelos temporais em todo o estado.

Com a morte registrada em Santa Catarina, o número de óbitos causados pela tragédia no Sul do país subiu para 40. Essa tragédia foi intensificada pela passagem de um ciclone extratropical sobre o Atlântico.

Esses são tempos difíceis para a região sul do Brasil, que enfrenta uma série de eventos climáticos extremos. Familiares enlutados buscam consolo e força para enfrentar essa difícil realidade, enquanto o poder público se mobiliza para prestar assistência às vítimas e minimizar os estragos causados por esses desastres naturais.

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