Repórter São Paulo – SP – Brasil

Idosa de 90 anos é resgatada em operação contra trabalho escravo, sendo a pessoa mais idosa a ser resgatada em condições de escravidão no Brasil contemporâneo.

No Rio de Janeiro, uma idosa de 90 anos foi resgatada após trabalhar por 16 anos sem carteira assinada durante uma operação contra o trabalho escravo coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A vítima, que foi encontrada na casa de sua empregadora de 101 anos, é a pessoa mais idosa já resgatada em condições de escravidão no Brasil contemporâneo. Além dela, equipes também encontraram crianças e adolescentes em situação de trabalho escravo, incluindo uma menina grávida.

A Operação Resgate III, realizada ao longo do mês de agosto, foi a maior ação conjunta de combate ao trabalho escravo e tráfico de pessoas já realizada, envolvendo o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública da União, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, além do Ministério do Trabalho e Emprego. Ao todo, 532 trabalhadores foram resgatados em 15 estados brasileiros e no Distrito Federal. No ano passado, foram registrados 2.575 casos de trabalho escravo no país.

Minas Gerais foi o estado com o maior número de ocorrências nesta operação, com 204 pessoas resgatadas. A maioria das vítimas trabalhava em lavouras de café e plantações de alho, batata e cebola. Os estados de Goiás, São Paulo, Piauí e Maranhão também registraram resgates relacionados ao trabalho escravo.

Além das áreas rurais, também foram registrados casos de trabalho escravo em áreas urbanas, como restaurantes, oficinas de costura, construção civil e trabalho doméstico. Na residência da empregadora da idosa resgatada, outras seis mulheres e três homens realizavam trabalho doméstico em condições precárias e irregulares.

Ao todo, 26 crianças e adolescentes foram encontrados trabalhando, sendo que seis deles estavam em condições semelhantes à escravidão. Além disso, 74 pessoas resgatadas também eram vítimas de tráfico humano.

Durante a operação, chamou a atenção o caso de 97 trabalhadores que atuavam na colheita de alho em Rio Paranaíba, Minas Gerais. Entre eles estavam seis adolescentes, incluindo a menina grávida. No local de trabalho, faltavam banheiros, cadeiras e as refeições eram consumidas frias. Os trabalhadores não tinham carteira de trabalho assinada e nem recebiam equipamentos de proteção individual.

No Piauí, em Batalha, 13 trabalhadores estavam em situação análoga à escravidão e chegaram a preparar um tamanduá para comer, devido à falta de alimentação adequada. Eles trabalhavam no corte de palha de carnaúba.

No Rio de Janeiro, a idosa resgatada trabalhava para a mesma família há 50 anos e, nos últimos 16 anos, atuava como doméstica e cuidadora de outra idosa, mãe de sua antiga empregadora. A idosa dormia em um sofá para estar mais perto da anciã e tinha um banheiro reservado para seu uso. Os empregadores foram indiciados pela Polícia Federal.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, os trabalhadores resgatados já receberam cerca de R$ 3 milhões em verbas rescisórias e foram pagos R$ 2 milhões em danos morais coletivos. O valor total será ainda maior, pois muitos pagamentos estão em processo de negociação com os empregadores ou serão apurados judicialmente.

A operação foi realizada no mês de agosto, marcado pelo Dia Internacional para a Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição, instituído pela Unesco em 23 de agosto. A data lembra a morte do abolicionista Luís Gama, patrono da abolição da escravidão no Brasil.

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