A redução do ensino de artes por conta da ênfase em testes padronizados afeta estudantes nos EUA e levanta questionamentos sobre a valorização da educação artística

A valorização das artes no currículo escolar tem sido um tema de debate em diversos países. Enquanto algumas pessoas acreditam que investir em atividades artísticas é essencial para o desenvolvimento dos estudantes, outras enxergam essa prática como uma preferência subjetiva e sem justificativa. Especialmente em locais onde o sucesso educacional é medido apenas por meio de testes padronizados, como o Saeb no Brasil e o Pisa internacional, o dispêndio de recursos em disciplinas artísticas pode ser considerado dispensável.

Os testes padronizados, que avaliam principalmente disciplinas como leitura, redação, matemática e ciências, têm impacto direto nos orçamentos escolares, na seleção de professores e até mesmo no desenvolvimento de currículos. A crescente importância dada a esses exames tem levado a uma redução dos recursos destinados ao ensino e apreciação das artes, principalmente nos Estados Unidos. No entanto, em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a tendência de redução dos recursos para as artes é inconclusiva ou se mostra apenas pequena desde o início dos anos 2000.

Nos EUA, algumas artes, como a dança, e estudantes pertencentes a grupos marginalizados, como os negros e os mais pobres, foram os mais prejudicados pela diminuição dos investimentos em atividades artísticas nas escolas. Isso é o que apontam Daniel H. Bowen, da Universidade Texas A&M, e Brian Kisida, da Universidade do Missouri, em uma resenha de estudos sobre o assunto.

Diversos estudos empíricos indicam que uma maior exposição às artes, não apenas em aulas curriculares convencionais, pode elevar as habilidades cognitivas, emocionais e sociais dos estudantes. No entanto, nem sempre isso resulta em um melhor desempenho em disciplinas consideradas “básicas”, como mostram as pesquisas de Bowen e Kisida realizadas em um distrito escolar de Houston, no Texas.

Ellen Winner, Thalia Goldstein e Stéphan Vincent-Lancrin argumentam que o ensino de artes não deve ser avaliado apenas pela transferência de habilidades para outras disciplinas, mas sim pelo aperfeiçoamento das habilidades relacionadas à arte, que são relevantes para uma educação voltada à inovação. Segundo eles, a ideia de transferência de habilidades pode não ter fundamentos científicos sólidos.

Diversos estudos buscaram medir o impacto das artes na educação de forma mais instrumental, ou seja, como o uso de conceitos e habilidades artísticas pode contribuir para a eficiência do ensino e aprendizagem de outras disciplinas. James Catterall, Richard Chapleau e John Iwanaga, do Imagination Project da Universidade da Califórnia, por exemplo, relacionaram o envolvimento em artes com melhorias no desempenho acadêmico em geral, em matemática, leitura, motivação e empatia.

No entanto, as pesquisas sobre esse tema possuem métodos e resultados variados, dificultando a comparação entre elas e a generalização de dados, descobertas e conclusões. O amplo estudo realizado por Winner, Goldstein e Vincent-Lancrin para a OCDE destacou a importância da arte para o desenvolvimento de habilidades para a inovação, que são essenciais em economias avançadas. Segundo eles, as artes têm valor intrínseco para o desenvolvimento humano e justificam sua presença nos currículos escolares, independentemente de sua capacidade de transferir habilidades para outras disciplinas.

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