Os fazendeiros, identificados como Nelson Buaianin Filho, Virgílio Mettifogo, Jesus Camacho, Dionei Guedin e Eduardo Yoshio Tomonaga, negaram todas as acusações durante seus depoimentos. A solicitação do Ministério Público Federal para que o caso fosse levado a Tribunal do Júri foi feita nas alegações finais do processo.
De acordo com a denúncia, os cinco fazendeiros organizaram, promoveram e executaram o ataque à comunidade indígena Tey Kuê. As investigações revelaram que cerca de 40 caminhonetes, apoiadas por três pás-carregadeiras e mais de 100 pessoas, muitas delas armadas, expulsaram à força um grupo de 40 indígenas de uma propriedade ocupada por eles.
Os indígenas reivindicavam a área como terra tradicional guarani-kaiowá. Durante o ataque, o agente de saúde guarani-kaiowá Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, de 26 anos, foi morto por disparos no abdômen e tórax. Outros seis indígenas também foram atingidos pelos tiros, incluindo uma criança de 12 anos.
Nas alegações finais do caso, o Ministério Público Federal afirmou que o conjunto de provas apresentado demonstra a existência de crime doloso contra a vida e indícios suficientes de autoria para que os réus sejam julgados pelo Tribunal do Júri.
É importante ressaltar que a área do conflito foi declarada como terra indígena nas últimas semanas do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou na época que o território possui 55,5 mil hectares e abriga aproximadamente 5,8 mil indígenas guarani-kaiowá de quatro comunidades diferentes nos municípios de Caarapó, Laguna Caarapã e Amambai, todos localizados em Mato Grosso do Sul.
Essa violência contra os guarani-kaiowá não é um fato isolado. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) acionou recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de conter a violência policial contra os indígenas em Mato Grosso do Sul. De acordo com a Apib, as violações contra essas comunidades são sistemáticas e estão relacionadas à falta de demarcação de suas terras tradicionais, além da presença de milícias privadas. A Secretaria de Justiça e Segurança Pública do estado alega atuar no cumprimento estrito de seu dever legal para garantir a ordem pública e a vida.
Essa disputa por território tem resultado em violência constante contra os guarani-kaiowá há anos. Desde 2003, pelo menos dez lideranças indígenas foram assassinadas no estado, de acordo com a Apib.