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Casa da USP celebra 6 décadas, marcadas por desalojamento de espíritos inquietos.

Há 60 anos, o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp) tem sido palco de resistência. Este mês marca o aniversário de seis décadas desse local emblemático, cuja história comprova a afirmação do estudante de geografia, Andler Gotardo, de 23 anos. Localizado entre a praça do Relógio e o Centro de Práticas Esportivas, o complexo é composto por oito blocos, nomeados de A1 a G, sendo que sete deles foram construídos para acomodar os atletas dos Jogos Pan-Americanos de 1963.

No entanto, ao invés de abrigar alunos retirantes como havia sido prometido, os apartamentos foram selados. Inconformados, doze estudantes invadiram o espaço e, em pouco tempo, centenas já habitavam o local. O movimento estudantil de São Paulo transformou o Crusp em um símbolo de resistência durante a ditadura militar, que se instaurou pouco tempo depois da tomada. Mas a resistência dos estudantes não durou muito tempo. Quatro anos depois, em dezembro de 1968, os tanques do Exército investiram contra os prédios e metade dos 1.400 moradores foi presa.

Julia Gumieri, pesquisadora do Memorial da Resistência, destaca a importância do Crusp como uma fortaleza democrática. Segundo ela, o local é um espaço de reuniões, encontros e organização da militância em diversos aspectos. Os estudantes que habitaram esse endereço sempre debateram questões maiores do que a própria condição acadêmica. O Crusp é um dos lugares de memória desse período de resistência e abertura política.

Após mais de uma década de ocupação, em 1979, grupos de ativistas e punks organizaram uma invasão no Crusp. A princípio, eles tomaram 11 quartos, mesmo com as condições precárias do local, como mofo, infiltrações, ferrugem e pragas. A administração da USP esperou a oportunidade para reivindicar o espaço, que veio após uma tragédia. Em 1984, dois homens foram encontrados mortos em frente ao bloco A, o que provocou um conflito entre a reitoria e os moradores.

Após reformas realizadas entre as décadas de 1980 e 1990 e com a chegada de novos moradores, a tensão entre os residentes e a administração da universidade continuou. Hoje, a USP tenta despejar os moradores que considera irregulares. Um exemplo disso é o caso de Rômulo dos Santos Paulino, de 48 anos, que recebeu uma ordem para deixar seu apartamento no bloco A, mas não tem para onde ir. A AmorCrusp está dividida em relação às expulsões, com uma parte defendendo análise criteriosa e humanizada de todos os casos, e outra parte acreditando que é injusto permitir a desorganização do Crusp para beneficiar alguns.

Atualmente, cerca de 1.600 pessoas residem no Crusp, sendo que 300 são consideradas irregulares. A USP afirma que não há fila de espera para a moradia, pois os estudantes que não foram contemplados recebem uma bolsa. Nos últimos meses, foram realizadas reformas nos prédios, como a remodelação do bloco D e a instalação de cozinhas nos outros blocos. No entanto, os moradores afirmam que essas medidas são insuficientes para compensar o abandono durante a pandemia de Covid-19, onde três pessoas cometeram suicídio. O Crusp continua sendo um local de resistência e luta pela moradia estudantil, mesmo diante das adversidades.

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