Derramamento de óleo no Nordeste: 4 anos de impunidade e ausência de reparação.

Há quatro anos, o Brasil enfrentava o início de um desastre ambiental sem precedentes em sua costa. A chegada das primeiras manchas de óleo às praias brasileiras em 30 de agosto de 2019 marcou o início de uma crise que perdura até hoje sem que os responsáveis sejam punidos, sem que haja restituição ao governo brasileiro e sem que as comunidades afetadas sejam devidamente reparadas.

Desde então, foram recolhidas mais de 5.300 toneladas de óleo em mais de 1.000 localidades nos estados do Nordeste, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Um trabalho árduo que contou com a participação de um grande número de voluntários que se uniram para tentar minimizar os impactos desse desastre.

O despejo do óleo em um trecho de aproximadamente 2.000 km do litoral atingiu em cheio pescadores, marisqueiras e a indústria do turismo, que sofrem com os prejuízos até hoje. O impacto econômico foi significativo, com a redução do volume de pescado e mariscos, afetando a subsistência dessas comunidades.

Joana Rodrigues Mousinho, pescadora de Itapissuma, em Pernambuco, relembra o período difícil que a pesca artesanal enfrentou. Ela destaca que ficaram sem poder pescar, pois ninguém queria consumir seus produtos devido à contaminação. O próprio pescadores foram os primeiros a limpar as praias, mesmo sem acesso a equipamentos de proteção adequados.

A demora do governo em acionar o plano de contingência também foi um fator agravante. Somente 43 dias após o início das manchas, o plano foi ativado, mobilizando as Forças Armadas, a Petrobras e outros órgãos governamentais para a retirada do óleo.

No entanto, mesmo com o recolhimento do óleo, os moradores ainda enfrentam os efeitos desse desastre. A biodiversidade marinha foi severamente afetada, com redução na densidade populacional das espécies e aumento de doenças nos corais das regiões atingidas. Estudos indicam que a perda da biodiversidade chegou a quase 80% em algumas áreas, e a recuperação desse ecossistema pode levar mais de uma década.

No aspecto legal, as investigações apontaram a responsabilidade do navio petroleiro grego NM Bouboulina. A empresa, o comandante e o chefe de máquinas do navio foram indiciados por crimes de poluição e dano a unidades de conservação. O valor dos danos causados pelo vazamento é estimado em mais de R$ 525 milhões.

Apesar de todos esses impactos e a falta de punição aos responsáveis, o Brasil ainda enfrenta a ameaça de novos derramamentos de óleo. Fragmentos continuam chegando às praias brasileiras, causando prejuízos para as comunidades tradicionais que dependem do mar para sua subsistência.

Diante desse cenário, é fundamental que o país não repita os mesmos erros e busque alternativas mais sustentáveis para a exploração de petróleo, como a recente discussão sobre a autorização para prospecção e exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas. É necessário que o governo leve em consideração os impactos ambientais e sociais antes de tomar qualquer decisão.

Manter viva a memória desse desastre e seus impactos brutais é essencial para que a sociedade esteja alerta e cobre soluções concretas. A reparação às comunidades afetadas e a punição dos responsáveis devem ser prioridades para que a justiça seja feita e casos futuros como esse sejam evitados.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo