Motoristas de ônibus sofrem ataques constantes na cracolândia, comparada por eles à tensão vivida na ‘Faixa de Gaza’.

Nos últimos meses, a região da cracolândia, localizada no centro de São Paulo, tem sido palco de uma crescente onda de violência que tem assustado motoristas e cobradores de ônibus que transitam pela avenida Rio Branco. Relatos de medo, apreensão e tensão têm se tornado cada vez mais frequentes entre os trabalhadores do transporte público, que agora passam por momentos de extrema insegurança.

De acordo com o SindMotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo), cerca de 20 funcionários procuraram delegados e inspetores da entidade nos últimos 30 dias para solicitar a troca de linha. Ações de dependentes químicos contra os coletivos, como ataques com paus e pedras, além de ameaças, têm levado esses profissionais a temerem por sua segurança diariamente.

Em um incidente recente que demonstra a situação caótica na região, um ônibus foi atingido por uma bala perdida no dia 18 de agosto. Um policial civil de folga, em uma ação contra supostos assaltantes, baleou um suspeito e também atingiu um pedestre. Essa não é a primeira vez que coletivos são danificados na região, vidros e retrovisores já foram quebrados em ataques de usuários de drogas.

Atualmente, durante a noite e no início da manhã, os dependentes químicos se agrupam na rua dos Gusmões, próximo à avenida Rio Branco, chegando a bloquear trechos do canteiro central e uma das faixas da avenida no sentido bairro. Essa presença maciça gera preocupação entre os motoristas e cobradores, que relatam uma tensão constante na região.

A reportagem esteve presente no local e ouviu funcionários do sistema de transporte, que por medo de represálias, preferiram manter o anonimato. Eles confirmam a presença diária de tensão e medo, e relatam que essa é a pior situação que já enfrentaram na região. Muitos consideram até mesmo deixar suas atividades profissionais pelo aumento da violência.

Em meio ao cenário de incertezas, alguns trabalhadores preferem continuar nas linhas que passam pela avenida Rio Branco por conhecer a rota, enquanto outros temem ser transferidos para regiões com alto índice de assaltos ou próximas a bailes funk. Os pedidos de troca de linha são difíceis de serem atendidos e geralmente dependem da disponibilidade de vagas em outros trajetos ou de permutas entre funcionários.

Segundo a SPTrans, órgão responsável pelo transporte público em São Paulo, 22 ônibus foram depredados na região da cracolândia entre janeiro e agosto deste ano. O órgão mantém contato com a Polícia Militar para que sejam registradas todas as ocorrências de violência no transporte coletivo.

Por outro lado, o SPUrbanuss, sindicato patronal das empresas operadoras de ônibus, afirma não receber registros de ocorrências das empresas associadas e considera que os problemas na cracolândia são uma questão de segurança pública.

Diante desse cenário de crescente violência, é necessário que sejam tomadas medidas efetivas para garantir a segurança dos trabalhadores do transporte público, bem como dos passageiros que dependem desses serviços diariamente. É fundamental uma atuação conjunta dos órgãos responsáveis pela segurança pública e pelas empresas de transporte, a fim de promover ações que reduzam a violência na região da cracolândia e garantam um ambiente mais seguro para todos os envolvidos.

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