Japão começa a descartar água de Fukushima no Oceano Pacífico: ação gera preocupações sobre impactos ambientais.

O Japão deu início, na quinta-feira (24), ao lançamento das águas residuais tratadas da usina nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico, apesar das críticas recebidas da China e dos temores das comunidades locais. Mais de um milhão de toneladas de águas residuais foram acumuladas desde o tsunami de 2011, que danificou gravemente as instalações da usina. O governo japonês argumenta que o risco de contaminação é mínimo, graças aos processos de filtragem da água e à avaliação positiva da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organismo de controle nuclear das Nações Unidas.

No entanto, a decisão do Japão tem gerado controvérsia na região. As comunidades locais temem que a liberação das águas residuais cause danos ao meio ambiente e prejudique a pesca e outras atividades econômicas. Além disso, a China, maior compradora de frutos do mar japoneses, acusa o país de tratar o oceano como seu “esgoto particular” e questiona a imparcialidade da AIEA.

Em resposta ao lançamento das águas residuais, o governo chinês anunciou a proibição de todas as importações de mariscos da região, alegando preocupação com a saúde dos consumidores chineses. Essa medida terá graves consequências econômicas, não apenas para as empresas japonesas, mas também para Hong Kong, que importa anualmente mais de US$ 1,1 milhão em produtos do mar do Japão.

A Coreia do Sul também proíbe alguns produtos marinhos do Japão, mas ainda não se pronunciou sobre o assunto. O primeiro-ministro sul-coreano, Han Duck-soo, afirmou que é importante que o Japão siga rigorosamente os padrões científicos e forneça informações transparentes à comunidade internacional.

As reações negativas à liberação das águas residuais também foram registradas no próprio Japão e em Hong Kong. Manifestantes tentaram invadir a Embaixada japonesa em Seul e manifestações de indignação foram realizadas em Tóquio.

É importante entender a situação na usina de Fukushima. Desde o desastre de 2011, a empresa proprietária da usina, Tepco, vem bombeando água para resfriar os reatores nucleares danificados. Como resultado, a usina produz diariamente água contaminada, que é armazenada em tanques. No momento, já são mais de 1 mil tanques cheios de água. O Japão argumenta que essa solução não é sustentável a longo prazo e por isso decidiu liberar gradualmente as águas no oceano, um processo que deve durar 30 anos.

A Tepco trata as águas residuais utilizando seu Sistema Avançado de Processamento de Líquidos, que remove a maior parte das substâncias radioativas, exceto o trítio e o carbono-14. Essas substâncias estão presentes no ambiente natural e emitem baixos níveis de radiação. Antes de serem lançadas no oceano, as águas residuais filtradas são diluídas com água do mar para reduzir a concentração das substâncias. A Tepco afirma que seu sistema de válvulas impede a liberação acidental de águas residuais sem diluição.

Enquanto o governo japonês e a Tepco defendem a segurança da liberação das águas, críticos argumentam que mais estudos são necessários para avaliar os possíveis efeitos sobre o meio ambiente marinho. A ONG Greenpeace, por exemplo, levantou preocupações sobre o processo de tratamento conduzido pela Tepco e defendeu que a água tratada deve ser mantida nos tanques até que a radioatividade restante seja reduzida de forma natural.

Além de questões ambientais, a reação da China também parece ser motivada por questões políticas. As relações entre Tóquio e Pequim se deterioraram nos últimos anos, com o Japão se aproximando dos Estados Unidos e demonstrando apoio a Taiwan, que é reivindicada pela China. Analistas acreditam que a China está usando essa questão ambiental para expressar seu descontentamento com o Japão.

O governo japonês e a Tepco têm lançado campanhas de educação pública para garantir transparência no processo de liberação das águas residuais. A Tepco está comprometida em fornecer dados em tempo real sobre os níveis de radioatividade da água e em explicar o processo de tratamento e descarte das águas de Fukushima em diversos idiomas.

Apesar das controvérsias e das críticas recebidas, o Japão segue com seu plano de liberar as águas residuais tratadas da usina de Fukushima no Oceano Pacífico. Resta saber qual será o impacto real dessa decisão no meio ambiente e nas relações diplomáticas da região.

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