A pesquisa, publicada na revista Cells, foi conduzida por cientistas do Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Butantan. Desde 1996, o instituto estuda o veneno do peixe niquim e, em 2007, descobriu uma proteína com propriedades anti-inflamatórias que se mostrou promissora no tratamento de diversas doenças inflamatórias.
No estudo atual, os pesquisadores compararam grupos de animais com asma que foram tratados com o peptídeo TnP, com o fármaco dexametasona, comumente utilizado no tratamento da doença, e com animais não tratados. Os resultados foram surpreendentes: assim como o tratamento convencional, o TnP reduziu em mais de 60% o número de células inflamatórias nos pulmões. Além disso, a redução foi de 100% para o grupo de eosinófilos, células responsáveis pela inflamação em metade dos pacientes com asma.
Outro benefício observado com o uso do TnP foi a redução da remodelação das vias aéreas, que contribui para a redução da função pulmonar e obstrução do fluxo aéreo, além da redução do muco presente nos pulmões. O mais surpreendente é que não foram identificados efeitos adversos com o uso do peptídeo, como ocorre com as terapias convencionais, que podem causar sintomas como taquicardia, agitação, dor de cabeça e tremores musculares.
A pesquisa também mostrou que o TnP possui potencial para o tratamento da esclerose múltipla. Em um estudo pré-clínico anterior, publicado na revista PLOS One, a molécula demonstrou atrasar o aparecimento dos sintomas e reduzir a gravidade da doença em camundongos. A próxima etapa será testar o tratamento em modelos de doenças oculares.
Para garantir a segurança do peptídeo, os cientistas realizaram testes em zebrafish, um modelo animal de pesquisa que possui semelhanças genéticas com os humanos. Os resultados mostraram que o TnP não causou disfunções cardíacas nem problemas neurológicos.
O Butantan estuda o veneno do peixe niquim desde 1996. Esse peixe peçonhento, presente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, é capaz de provocar acidentes graves. O contato com seus espinhos causa dor intensa, sensação de queimação, inchaço e necrose. A descoberta das propriedades anti-inflamatórias do veneno e do peptídeo TnP representa uma grande conquista para a ciência e pode ser uma esperança de tratamento para milhões de pessoas que sofrem com a asma.