ICMBio denuncia irregularidades e exploração em acordos de crédito de carbono em áreas marinhas protegidas.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) identificou irregularidades e cláusulas abusivas em contratos para geração de créditos de carbono que estipulavam que metade dos repasses fossem destinados à empresa responsável pelos projetos. Esses acordos foram assinados entre a empresa Carbonext e associações de trabalhadores que atuam em 12 reservas extrativistas no litoral amazônico do Pará. Essas reservas estão localizadas em áreas de mangue com grande biodiversidade.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mais de 21 mil famílias estão assentadas nessas reservas extrativistas. A geração de créditos de carbono ocorreria a partir de atividades que evitem o desmatamento e degradação da floresta, através do instrumento REDD+ da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima.

Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 que deixa de ser emitida para a atmosfera graças à preservação da floresta. Esses créditos são vendidos a empresas que precisam compensar suas próprias emissões de gases de efeito estufa. No entanto, o mercado de crédito de carbono ainda não possui uma regulação específica no Brasil.

Os contratos assinados entre a Carbonext e as associações previam que 50% dos recebimentos por eventuais créditos seriam destinados à empresa, sendo 30% como remuneração pelos projetos desenvolvidos e 20% para iniciativas de monitoramento e gestão das áreas. A outra metade seria destinada às associações. Além disso, os contratos estabeleciam uma parceria de 20 anos com exclusividade, compartilhamento de receita e restrições de contestações no Judiciário.

O ICMBio, em um parecer de julho de 2022, considerou que esses contratos continham cláusulas abusivas e que a parte que assinou os contratos foi ilegítima, o que poderia resultar em denúncias e sanções às associações. Posteriormente, em maio de 2023, os contratos foram anulados.

A Carbonext alega que todas as tratativas foram conduzidas com transparência e respeito às comunidades e que os termos do contrato são válidos. A empresa defende que as reservas extrativistas são unidades de conservação que permitem o regime possessório privado e que os créditos de carbono gerados pelo projeto seriam de titularidade das associações.

Além disso, a Carbonext ressalta que a exclusividade nos contratos e o recebimento de 30% dos créditos são práticas padrão da empresa. Ela também afirma que o compartilhamento de receita garante a continuidade do projeto e que a definição sobre arbitragem foi debatida com a comunidade.

A atuação da Carbonext em terras indígenas também foi questionada, e contratos foram desfeitos devido a previsões inadequadas e propostas ilusórias. O Ministério Público Federal e o Ministério Público do Pará afirmaram que o mercado de crédito de carbono afeta o modo de vida das comunidades tradicionais e que é necessária intervenção estatal nos contratos.

Em conclusão, os contratos para geração de créditos de carbono no litoral paraense apresentaram cláusulas abusivas e irregulares, segundo o ICMBio. A Carbonext foi a empresa responsável pelos projetos e assinou parcerias com associações de trabalhadores das reservas extrativistas. A empresa defende a validade dos contratos e alega transparência em suas propostas. Agora, o caso está sendo analisado pelos órgãos competentes para garantir a proteção das comunidades e a correta aplicação dos recursos provenientes dos créditos de carbono.

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