A mineração em águas profundas: a nova ‘corrida do ouro’ no mundo marítimo. Por que esse setor é tão atrativo?

A mineração do fundo do mar se tornou um assunto cada vez mais importante e polêmico nos últimos anos. Com a crescente demanda por minerais essenciais para a produção de tecnologias verdes, como painéis solares e baterias de carros elétricos, empresas e países têm voltado sua atenção para as reservas existentes nas profundezas dos oceanos.

No entanto, essa busca por minerais valiosos tem sido criticada por ambientalistas, pesquisadores e comunidades tradicionais, que afirmam que a mineração do fundo do mar pode ter consequências graves e irreversíveis para a biodiversidade e o aquecimento global.

As reservas de minerais estão localizadas em diferentes formações geológicas no fundo do mar, tais como nódulos polimetálicos, sulfetos polimetálicos e crostas de montanhas submarinas ricas em cobalto. A extração desses minerais requer tecnologias avançadas e estruturas submersas para coletar e processar os materiais.

A decisão de autorizar a mineração do fundo do mar é de responsabilidade da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), uma organização vinculada à ONU. No entanto, ainda há muitas incertezas e lacunas no conhecimento científico sobre as regiões abissais, o que torna a decisão ainda mais difícil.

Em julho, a ISA se reuniu para discutir se a atividade deveria ser autorizada. No entanto, a decisão foi adiada e o assunto será retomado em 2024. Enquanto isso, uma aliança de 21 países, incluindo o Brasil, pede a adoção de uma moratória ou pausa preventiva nas deliberações, até que os impactos da mineração do fundo do mar sejam melhor compreendidos.

A posição brasileira é de que deve haver uma pausa de pelo menos dez anos, devido à falta de condições científicas para garantir a preservação do meio ambiente e da biodiversidade durante a exploração dessas áreas sensíveis. Além disso, o Brasil defende a busca por alternativas mais sustentáveis, como a reciclagem de metais e a exploração terrestre.

A mineração do fundo do mar é defendida por nações como China, Noruega, México e Reino Unido, que alegam que esses minerais são necessários para a transição para uma economia de baixo carbono. No entanto, críticos argumentam que a busca por esses minerais pode ter um impacto negativo no clima, alterando o ciclo do carbono dos oceanos.

Os oceanos desempenham um papel fundamental na regulação do clima, absorvendo e armazenando grandes quantidades de dióxido de carbono. Qualquer perturbação no ecossistema marinho profundo pode afetar a reciclagem e o enterramento do carbono, o que pode ter consequências significativas para o clima global.

Além disso, a mineração do fundo do mar é uma atividade de alto impacto, que envolve perturbação sonora, movimentação de sedimentos e produção de grandes volumes de resíduos. Isso tudo em um ambiente único e muito antigo, que abriga uma grande diversidade de espécies adaptadas a condições extremas.

A preocupação com a biodiversidade marinha é justificada, já que muitas espécies do fundo do mar têm ciclos de vida longos, se reproduzem tarde e têm poucos filhotes. Isso faz com que a recuperação dessas áreas seja extremamente lenta e difícil, podendo levar décadas ou até séculos.

Em última análise, a decisão sobre a mineração do fundo do mar é um equilíbrio delicado entre o avanço tecnológico, a busca por recursos essenciais e a preservação do meio ambiente. Apesar dos benefícios econômicos potenciais, é crucial considerar os potenciais riscos e impactos ambientais antes de prosseguir com essa atividade. A discussão global sobre o assunto continua, e espera-se que um maior conhecimento científico e uma avaliação cuidadosa dos riscos sejam levados em consideração nas decisões futuras.

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